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Artigos • 28 dez, 2021

Campanha publicitária promove usinas nucleares


O governo federal busca a aceitação popular para o uso da energia nuclear. Enquanto o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, anuncia que o município de Angra dos Reis (RJ) é forte candidato a abrigar a quarta usina atômica – antes mesmo da conclusão de Angra 3 – campanha publicitária, inclusive na televisão, explora a importância das usinas para o bem do país.  Por curiosidade, o valor da campanha foi divulgado?

A publicidade pró usinas tem várias inverdades. Elas não são suficientes para garantir o abastecimento do país de energia elétrica. Angra 1, com a potência instalada de 640 MW, quando opera com 100% de sua potência sincronizada ao Sistema Integrado Nacional (SIN), equivale a produção de somente 10% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro.

Angra 2, com o dobro da potência, gera 20% da energia, na mesma conta. São essas duas usinas em operação. Já Angra 3, poderá gerar a mesma energia, quando entrar em funcionamento, em 2026. Isso quer dizer que as usinas contribuem para a geração da energia elétrica, mas custam fábulas de dinheiro, podendo provocar prejuízos à população e ao meio ambiente e, não vão reduzir as possibilidades de o Brasil ficar imune ao problema.

Diferentemente daqueles que defendem tal tecnologia para o Brasil, a núcleoeletricidade em nada contribui para a transição energética. Como já mencionei, as usinas Angra 1 e Angra 2 contribuem com menos de 2% da potência total instalada na matriz elétrica. O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, projeta uma ampliação da geração nuclear entre 8 e 10 Gigawatts (GW). Mesmo que esta potência seja agregada à matriz elétrica nos próximos anos, a contribuição da fonte nuclear continuaria mínima e desnecessária para segurança energética do país.

Países como a Alemanha, Itália, Áustria, Bélgica, entre outros, já abandonaram esta tecnologia. Na França e no Japão novas instalações de usinas nucleares sofrem grandes resistências, de inúmeros e representativos grupos sociais. Nota-se mundialmente entre os povos, um posicionamento majoritário contrário à tecnologia nuclear, pois além do risco de uma tragédia com espalhamento de material radioativo para o solo-terra-ar; as usinas nucleares são caras, sujas e perigosas.

Por exemplo, no caso de Pernambuco, o artigo 216 de sua Constituição Estadual restringia a instalação de usinas nucleares em seu território, desde que todas outras fontes energéticas já tivessem sido utilizadas. Segundo decisão do STF este dispositivo foi anulado, e assim, do ponto de vista jurídico, esta decisão vai facilitar a instalação de usinas nucleares em seu território, conforme defende o governo federal.

Existem inequívocos interesses econômicos e militares em promover as usinas nucleares, em detrimento ao interesse público. Econômicos, pois são construções caras, US$ 5 bilhões cada usina de 1.200 Megawatts (MW), obviamente de grande interesse dos vendedores dos equipamentos e das empreiteiras.

A sociedade precisa de informações sobre a construção dos submarinos nucleares, cujo custo ao país é estimado em R$ 35 bilhões. Na área militar o desejo, sempre desmentido, é pela construção de artefatos nucleares, como a bomba nuclear. Assuntos gravíssimos e de interesse da sociedade brasileira, que impliquem consequências para as gerações futuras não estão sendo devidamente debatidos. Um deles é a nuclearização do país em um continente até então pouco provido de atividades nucleares.

Fonte – Congresso em foco

HEITOR SCALAMBRINI DA COSTA É professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco.




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