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Artigos • 12 ago, 2020

Com discurso de uma nota só, PT corre o risco de sair destroçado das eleições


Ex-presidente monopoliza PT – Lulismo sofre risco de extinção

Quando o ex-presidente Lula saiu da prisão, em novembro do ano passado, o PT imaginava que sua militância voltaria a se eletrizar e o partido sairia da lona moral em que foi jogado pela operação Lava Jato. Seria um renascimento, no qual a disputa eleitoral funcionaria como uma fonte da juventude. Deu tudo errado. O partido tem a maior bancada da Câmara, com 53 deputados, mas deve levar uma surra nas eleições municipais deste ano. O partido aparece como favorito em apenas duas capitais: Recife e Vitória.

Se esse resultado vingar, será o dobro do que o PT conquistou em 2016, quando elegeu apenas o prefeito de Rio Branco (AC). Vamos combinar que é uma porcaria segundo a própria métrica do PT, que se autointitula o maior partido de esquerda da América Latina.

Lula anunciou a seu círculo que o PT deveria ter uma meta ambiciosa para as eleições municipais de 2020: recuperar o número de vereadores eleitos em 2012. Naquele ano, no auge do lulismo, o partido elegeu 632 prefeitos e 5.128 vereadores. Quase 1/3 dos eleitos abandonou o barco petista quando o lança-chamas da Lava Jato avançava sobre alguns caciques do partido. Na eleição de 2016, com a Lava Jato bombando nas TVs e um impeachment para lá de controverso de Dilma, o partido elegeu apenas 256 prefeitos e 2.808 vereadores. Para cumprir o desejo de Lula, o PT precisa mais do que dobrar o número de prefeituras, uma meta aparentemente impossível no cenário atual.

Lula quer porque quer que o partido volte ao nível de 2012, mas não consigo ver movimento concreto algum para que isso deixe o terreno da fantasia.

Veja os casos de São Paulo e Rio de Janeiro, as duas principais cidades do país. O PT escolheu Jilmar Tatto, um daqueles burocratas sem voto, para concorrer em São Paulo; no Rio, a candidata será Benedita da Silva, que tem como marca registrada uma passagem desastrosa pela prefeitura carioca. Não é preciso ser o gênio da lâmpada para sentir a flagrância de derrota no ar. São desastres anunciados. Toda semana petistas anunciam que estão embarcando na candidatura do Psol, na chapa formada por Guilherme Boulos e Luiza Erundina.

Nos 2 casos, foi Lula quem ordenou que o partido não se aliasse com ninguém no 1º turno. O PT, segundo ele, deveria ter cabeças de chapa nas principais capitais para colocar o partido na vitrine. Uma exceção será Porto Alegre, onde o diretório municipal do PT aprovou em maio o apoio já no 1º turno à deputada Manuela D’Ávila (PC do B), com o petista Miguel Rossetto de vice. O problema é que essa vitrine se quebrou e não há ninguém no partido com ideias e poder para consertar o estrago.

Sempre achei que foi nos municípios que o PT teve os melhores projetos inovadores de gestão. Dois exemplos óbvios: o orçamento participativo em Porto Alegre e a construção de centros educacionais que criam um novo tipo de centralidade na periferia de São Paulo, chamados de CEUs, na gestão de Marta Suplicy, hoje no MDB. Hoje não há nenhum programa inovador dos petistas, e isso é péssimo para o país.

Lula comanda o PT com estilo imperial há cerca de 40 anos. Desde que foi condenado pelo então juiz federal Sergio Moro, o partido adotou o discurso de uma nota só, o de que Lula é inocente. A condenação do ex-presidente teve de fato elementos que mais lembram uma caçada do que uma ação da Justiça. O discurso de uma nota só pode ser ótimo para Lula, mas tem o risco de acelerar a marcha do partido para a insignificância.

Seria um desastre para a democracia que o país deixasse de ter um partido de esquerda organizado, para defender pautas sociais no país da desigualdade monstruosa. O PT, por sua vez, insiste em ignorar provas de corrupção da Lava Jato durante os governos de Lula e Dilma. A Lava Jato cometeu irregularidades em série, mas há casos incontestes de propina.

O presidente Jair Bolsonaro parece ter percebido essa letargia do PT e está avançando sobre o que já foi a maior fortaleza do partido, os beneficiários do Bolsa Família. Ele aproveitou a pandemia para carimbar o auxílio emergencial de R$ 600 como obra dele –a proposta inicial do governo era de R$ 200; foi o Congresso que elevou o valor. Como tem mostrado as pesquisas do PoderData, é esse o maior capital político de Bolsonaro. A aprovação do presidente entre os beneficiários do auxílio é de 50%, de acordo com levantamento da 1ª semana de agosto. Já entre a população como um todo esse índice cai 5 pontos percentuais.

É prematuro decretar a morte do lulismo, mesmo porque o governo não tem recursos para manter esses R$ 600 para depois de 2020, mas essa corrente nunca sofreu tantos revezes.

O teste máximo de Lula será a eleição de novembro. Se o PT sair destroçado da disputa, o ex-presidente perde força por ter sequestrado os debates no partido para defender a sua inocência. Se a estratégia der certo, Lula sai fortalecido para fazer o que quiser no partido.

Se tivesse que apostar R$ 1, eu jogava na hipótese do PT destroçado por uma razão simples: os eleitores vão lembrar mais dos R$ 600 do que da suposta injustiça cometida contra Lula por Moro. Mesmo porque os mais pobres sofrem injustiças diárias e o PT parece pouco preocupado com a barbárie cotidiana

Por Mario Cesar Carvalho. Poder 360




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