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Artigos • 24 out, 2019

Corumbá – a Detroit brasileira (artigo)


Para quem não conhece a história de Detroit, esclareço que se trata de
uma cidade dos Estados Unidos onde se concentrava grande número de
indústrias automobilísticas, lideradas pelas poderosas marcas como a Ford
e a General Motors, mas que por vários motivos de ordem administrativa
e política da cidade, onde a corrupção teve um peso considerável, e, por
mais incrível que pareça, as dificuldades financeiras tornaram impraticável
sua recuperação, e o pedido de falência do município foi requerido, e, na
década de 1960, foi decretado.

cidade de Detroit chegou a possuir dois milhões e trezentos mil
habitantes, e, após a derrocada, o esvaziamento foi inevitável, um
verdadeiro êxodo, que transformou a bela e vibrante cidade, em um
conglomerado de imóveis em casas fantasmas, baixando sua população
para cerca de setecentos mil habitantes, com uma drástica desvalorização
imobiliária, até então inacreditável. Os galpões das fábricas automotivas
totalmente abandonados, e não era difícil constatar que a quebradeira foi
geral e de maneira irreversível.

Um acontecimento inimaginável para uma cidade onde se encontrava
estabelecida a fina flor da indústria norte-americana, país que naquela
época já ostentava o título de potência econômica mundial. Com a
indústria automobilística em ascensão, jamais alguém, por mais
experiente que fosse, admitiria um desastre dessa envergadura, que levou
junto com o fracasso, a própria cidade séde do empreendimento
consolidado, porém, o fracasso se concretizou, para a tristeza dos
operários e engenheiros desempregados.

O leitor naturalmente deve estar curioso com a comparação feita pelo
autor entre Corumbá e Detroit, mas, sendo natural da Cidade Branca, e,
tendo nascido no início da década de 1940, posso afirmar que até a
metade da década de 1960, a nossa cidade ostentava o título da mais
importante cidade do Centro Oeste. Para se ter uma ideia de minha
afirmação, o prédio e as instalações do Moinho Matogrossense estão lá
para testemunhar a presença da atividade de moagem e embalagem do

trigo procedente da Argentina e que era comercializado até com o Estado
de São Paulo.

A navegação era intensa, com navios de cargas e de passageiros, onde os
escritórios estabelecidos no casario do Porto Geral evidenciava a pujança
do comércio local, onde também se encontravam instalados mais de uma
dezena de Bancos estrangeiros.O comércio de couros de gado, de
capivaras e de jacarés eram muito fortes. A Ferrovia se constituía no mais
importante meio de transporte, ligando o Estado de Mato Grosso a São
Paulo, além das empresas aéreas com vôos diários para diversos destinos
no país e no exterior.

Uma cidade dotada de bons cinemas, restaurantes e bares com excelentes
instalações. Espetáculos teatrais e circenses eram rotinas, assim como as
atividades esportivas, como o futebol, o basket, o vôlei e o boxe. Uma
cidade que exalava cultura. Os primeiros edifícios de apartamentos
residenciais do Estado, foram ali construídos. Estaleiros para construção
de pequenas embarcações, bem como para reparos de embarcações
maiores ali se encontravam instalados.

Pasmem, hoje, Corumbá não se transformou em uma Cidade Fantasma,
porém, vive quase que exclusivamente do turismo. O que aconteceu?
Foram vários fatores, sendo o mais importante, o desvio do eixo comercial
que determinou o abandono da Ferrovia e da Hidrovia, além de um
acontecimento pouco citado: a Segunda Guerra Mundial. Os bancos
estrangeiros encerraram suas atividades, e o comércio de exportação do
minério de ferro e do couro sofreu um declínio vertiginoso. Uma volta ao
passado seria possível? Lamentavelmente, jamais.

BENEDITO RODRIGUES DA COSTA
Economista


Um Comentário

  1. Carlos Alberto melgarejo disse:

    Parabéns Bene pelo artigo. Graças a pessoas como você a história e preservada. Senão fica tudo no esquecimento. Infelizmente.



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