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Artigos, Campo Grande • 10 abr, 2018

Dante Filho: carta aos companheiros


 

 

 

Eu sei, vocês estão tristes e magoados. Mas existe um consolo: Lula é uma ideia, lembra? Esse ser abstrato está livre na cabeça de cada um. Olhando pela perspectiva dessa estranha metafísica consoladora, nazistas também dizem até hoje que Hitler está vivo. Mais: tem gente que tem certeza de que Elvis não morreu. Dentro de nossa cabeça, pode tudo. 

 
O problema é que Lula está hoje trancafiado numa cela. Pessoa física e jurídica. Essa questão não tem muito a ver com ilusões heroicas. O criminoso é um ser concreto.  Lá de dentro da carceragem, certamente terá regalias, mas ele não terá aquilo que ele mais gosta: platéia de zumbis. 
 
Todos sabemos que Lula gosta de ouvir a própria voz. Lá em Curitiba ele terá a chance de falar para as paredes. É possível que se canse. Se for inteligente começará a dialogar consigo mesmo. Qual a primeira pergunta que poderá fazer nessa hora? 
 
Onde foi que errei?
 
Se Lula chegar nesse estágio, dará um grande passo. Não precisa exteriorizar essa resposta nem usar para uma eventual delação ( não é preciso delirar tanto assim). Basta que mergulhe em si mesmo, faça um striptease de sua onipotência, veja o corpo nu de sua arrogância e, ajoelhado (metaforicamente), peça perdão não pelo mal que causou para ao País (isso seria pedir demais), mas pelos erros que induziu milhares de pessoas inocentes e ignorantes pelo seu ilusionismo populista e demagógico. 
 
Criar uma legião de crentes e fanáticos tem seus riscos. Eles perdem sua individualidade e senso crítico e estabelecem uma relação de unicidade com o líder, abandonando o sujeito autônomo que funda o chamado livre arbítrio e o substitui pela divindade no qual acredita, com fervor, que, enfim, o levará ao paraíso. 
 
Seitas de malucos existem em todo o mundo e são estudadas cada vez com maior interesse.
A liberdade de espírito – algo tão caro a Marx, Nietzsche, Freud e tantos outros homens de pensamento – é suprimido nesses momentos por uma esfera lateral do pensamento e adquire aquilo a que se chama totalidade da ideia, ou ideologia (uma variante da fé fervorosa), para explicar todas os fatos e atos humanos ( até a cor do cocô do cavalo do bandido). 
 
Penso que os companheiros devem comemorar a interdição do grande líder messiânico. Ele lhes dará a chance para se libertar a prisão mental em que há muito tempo estão trancafiados. Não existe melhor momento para se reinventar do que esse: enquanto Lula tira umas pequenas férias em Curitiba, é uma boa hora para pensar com a própria cabeça, mudando a sintonia para outras ondas, ou seja, aquelas que permitem enxergar que o mundo é complicado demais para ficar cultuando ídolos com os pés de barro.
 
Abraços e saudações democráticas



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