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Artigos • 02 abr, 2020

DESENCAIXE – ALEX PALHANO


 

O negócio é o seguinte: hoje estou aqui pra dizer a você (e a mim) que todos têm mentido pra nós… E faz tempo. Quem? Nossos pais, nossos professores, nossos médicos… E a gente mesmo. É a mesma mentira, a mesma frase: “tudo vai ficar bem”.

Mas e se não for assim? E se experiências são herdadas como cabelo crespo e olhos azuis? E se a dor nos vem no DNA e a tragédia é direto no nascimento?  E se, às vezes, quando menos se espera, merdas acontecem. Porque merdas acontecem.

O que todos nós fazemos além de mentir?

Além de mentir, a gente sabe sentir, olhar pra trás e, cedo ou tarde, reconhecer um fato: pra continuar, às vezes, devemos voltar pro final da fila.  E começar do zero. Eu sei que não é fácil, mas é a chance de seguir. Talvez o único jeito pra seguir.

Só entre a gente: você nunca se viu numa caixa, preso?!  Numa embalagem que não nos cabe?! Esquecemos até como fomos caber nela. A vida in box. E sem se importar como tentamos escapar, nos afundamos cada vez mais.  Você nem lembra como chegou a isso, mas de repente sabe (nós sabemos) que a melhor maneira de sair dessa infeliz e incabível  caixa é desfazer-se dela de uma vez.  É radical. Uma amputação que seja! Arranque-a!

Pensa bem: quem precisa disso, desse encaixe? São tantos: o filho que não suporta você; a família que insiste em ser levada nas suas costas; sua mulher ou seu marido que lhe finge amar; o “seu amor” que não sente nada; o maldito trabalho que você não suportar mais…   Por favor, libere-se do sofrimento. E a primeira coisa é admitir que ele existe; só porque achamos por bem, ou que seria “melhor pra todo mundo” cabermos dentro de uma caixa.

Começar de novo não é uma loucura.. Loucura é sentir-se miserável e andar meio dormindo, dormente, adormecido, dia após dia… Loucura é fingir que se é feliz, fingir que as coisas como são têm que continuar pelo resto da sua “maldita” vida.

É nisso que acredito, caro leitor: agora, neste momento, tem alguém com você. Olhe direito. Em volta. Longe ou perto. Há alguém disposto a colocá-lo de pé, sacudir a poeira, beijá-lo, perdoá-lo, suportá-lo, querer você, amá-lo.

Pode ser que nem sempre tudo esteja bem. Mas acredite numa coisa, essa pode ser uma das poucas verdades: não há razão para estarmos sozinhos, ou vivermos o que não queremos.

* Jornalista, cronista e empreendedor




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