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Artigos • 27 set, 2021

Destruir a sanidade dos jovens é hoje em dia um mercado lucrativo


(por Luiz Felipe Pondé ) – 

Atualmente até os bebês devem ser empreendedores de si mesmos e estar ligados a causas

Imagine uma propaganda em que aparece uma mulher grávida abraçando sua barriga diante de uma floresta e uma frase embaixo, como se fosse ela dizendo mais ou menos o seguinte para seu bebê ainda no útero: “salvar nosso planeta será a missão”. Abaixo, está escrito “generation one”.

Não importa de quem é a propaganda, mas ela aparece em uma das revistas internacionais de maior reconhecimento. O que quer dizer um comercial como esse? Antes de tudo, ele quer dizer que estamos ferrados —para não usar nenhum termo que ofenda a sensibilidade dos falsos revolucionários de plantão.

A rigor, não há nada de novo na ideia, apenas uma radicalização —há anos estamos num projeto de destruição da saúde mental dos mais jovens dizendo justamente o contrário, que eles são lindos e mais evoluídos. Às vezes, ouço por aí frases desse tipo, ditas por pessoas que se acham a prova pura de que a humanidade evolui na mesma medida em que ela lê algo de idiota na sua bolha das redes sociais.

Na prática, desde os tais millennials, esses coitados que começam a acordar para o prejuízo da fé em si mesmos, os pais, as escolas, as universidades, o marketing, a espiritualidade, todos, em uníssono, trabalham para destruir a saúde mental dos mais jovens.

E nada vai mudar, porque essa destruição é um mercado bastante lucrativo e em crescimento. Mas, quando isso acontece em casa, aí começam a chorar as pitangas e se voltam para o próprio mercado da contenção de danos —e não tem muito o que fazer mesmo.

Os jovens obrigatoriamente devem ser corretos em tudo, eficazes em tudo, equilibrados em tudo, informados em tudo, atentos a tudo, saudáveis em tudo, produtivos em tudo, felizes sempre. O resultado disso é a doença mental, que recebe apelidos fofos e técnicos para não ferir a sensibilidade do marketing de nicho.

Nem os embriões estão a salvo. Todo mundo sabe disso, mas vamos continuar mentindo, pois mentir agrega valor —e o resto que se dane.

Mas, ampliemos o argumento para, talvez, aprofundar a percepção do sintoma. O paradigma do empreendedorismo como obsessão justifica tudo. Sim, até os bebês devem ser empreendedores de si mesmos e ligados a causas. Quando atribuímos missões para os mais jovens estamos condenando essas pessoas a perseguir o sucesso desde sempre.

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