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Artigos • 16 out, 2020

Educação: Pandemia acelera “revolução” digital


É opinião unânime que a educação tem sido um dos setores mais duramente atingidos pela pandemia de Covid-19 em todo o mundo, com consequências ainda mais graves para os grandes contingentes de crianças, adolescentes e jovens que têm pouco ou nenhum acesso ao ensino remoto.
De acordo com estudo conduzido por Andreas Schleicher, da OCDE e criador do PISA, e Fernando Reimers, pesquisador de Harvard, no período mais agudo do lockdown cerca de 1,5 bilhão de alunos ficaram fora da escola em quase todos os países do mundo.
Mais da metade desse enorme contingente não tinha – e certamente continua não tendo – oportunidade de acompanhar o currículo: em termos globais, no mês de julho, 55% não contavam com um computador em casa, enquanto 43% não dispunham de acesso à internet.
No Brasil, levantamento concluído em junho apontava que 39% dos alunos da rede pública não contavam com dispositivo eletrônico – um telefone celular que fosse – com que pudessem assistir aulas e captar conteúdos online. O percentual dos que não tinham acesso à internet era de 45%.
Assim, em que pesem os reconhecidos esforços governamentais para preencher, de algum modo, a falta de aulas presenciais, seja pela internet, seja por sinal da TV aberta – como fez o governo de Mato Grosso do Sul –, “estima-se que 60% dos estudantes brasileiros de escolas públicas acabaram fora da educação a distância”, diz a especialista Ana Maria Diniz.
De consequências graves e duradouras, pelo comprometimento do processo de aprendizagem e, pior ainda, pelo desestímulo que repercute no aumento da evasão entre os que não dispõem de meios para o aprendizado a distância, a longa suspensão das aulas presenciais aprofunda a crônica e vexatória desigualdade entre ricos e pobres.
Porém, como é da natureza das crises, desta que aflige a educação é possível extrair algumas experiências alentadoras. A começar pelo reconhecimento dos pais ao papel fundamental dos professores.
Com as escolas fechadas, os pais se viram na contingência de, no mínimo, estudar com seus filhos, ajudá-los nas tarefas online; e, no limite da necessidade, serem eles próprios os ‘professores’ improvisados, para mitigar a defasagem no aprendizado dos filhos. Tem sido o suficiente para que proclamem, em uníssono, o quanto passaram a valorizar o papel do professor. Pena que para isso tenha sido necessária a dura lição de uma pandemia. Antes tarde do que nunca, diriam muitos. E com razão.
Por outro lado, especialistas apontam como auspicioso o ‘choque de realidade’ que a pandemia imprimiu sobre os próprios professores. No dizer da já citada Ana Diniz, eles “perderam o medo da tecnologia, apesar de mais de 80% deles não se sentirem preparados para lidar com ela (…), tiveram que se virar, pedir ajuda aos filhos, a quem estivesse à sua volta e, hoje, muitos deles já estão muito mais confortáveis com o digital”.
Como se vê, movidos por vocação e responsabilidade profissional, os professores – pelo menos boa parte deles – foram instados, pelas contingências da pandemia de Covid-19, a novamente aprender a ensinar, à luz de uma nova e desafiadora realidade que se impõe como irreversível: mesmo que por caminhos indesejáveis, as ferramentas digitais estarão, a partir de agora, definitivamente incorporadas ao ambiente escolar.
Se os graves efeitos deletérios da pandemia acabaram por apressar o processo de absorção de tecnologias digitais pela educação, esse período de duras provações, também para o ensino, tem sido fértil em exemplos de dedicação extremada, de doação edificante muito além do simples profissionalismo, por parte de professores que, no quase anonimato de seu ofício, dão provas de grandeza de espírito e de sensibilidade humana, de que só os verdadeiros educadores são capazes.
No próximo artigo, vamos abordar algumas dessas histórias emocionantes.
*Iran Coelho das Neves é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.



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