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Artigos • 28 set, 2021

Fora com os missionários em terras de índios isolados


(por Helio Schwartzman ) – 

A crença em Tupã goza da mesma proteção do Estado que a crença no Deus cristão

A bancada da Bíblia está em pé de guerra com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF. O magistrado acaba de reafirmar uma decisão da corte que proíbe, durante a pandemia, missões religiosas de entrar em território de índios isolados ou de contato recente. Na opinião dos pios parlamentares, a decisão é “claramente orientada por ideologia declaradamente anticristã” e promove “perseguição religiosa”.

Besteira. O Supremo não proibiu apenas missionários cristãos de contatar os índios, mas “quaisquer terceiros, inclusive membros integrantes de missões religiosas”. Na verdade, ao esclarecer o alcance da decisão, Barroso até que pegou leve com os cristãos, pois permitiu que as missões que já estavam nas aldeias antes da epidemia nelas permanecessem.

Na minha modesta opinião, tratando-se de índios isolados ou semi-isolados, o correto seria proibir, em qualquer tempo, não só na pandemia, quaisquer contatos, principalmente os de missionários. Exceções só para emergências. Se uma equipe médica entra na aldeia para debelar um surto de cólera, por exemplo, e sai em seguida, estamos diante de uma interferência à qual a cultura indígena pode sobreviver.

O Estado é laico, o que significa que, independentemente do número de deputados evangélicos, a crença em Tupã goza da mesma proteção que a crença no Deus cristão. Aliás, como Michael Shermer sempre lembra, nos últimos 10 mil anos, os homens produziram cerca de 10 mil religiões com ao menos mil deuses. Qual é a probabilidade de que Jeová seja o verdadeiro e Zeus, Baal, Brahma, Odin, Tupã e mais 994 sejam todos falsos?

*Publicado na Folha de S.Paulo




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