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Artigos • 09 mar, 2020

A irracionalidade em tempos de epidemia


Os séculos passam, e a humanidade dá provas renovadas de que é fortemente sugestionada por fatores que desconhece, em detrimento da razão ou evidências científicas

A OMS elevou a ameaça internacional do coronavírus para “muito alta”, reforçando a seriedade que a situação encerra, e as reações populares variam do pânico ao descrédito, incluindo boatos disseminados de que se tratam de fake news. Sigmund Freud, em Inibição, Sintoma e Angústia, diferenciou basicamente dois tipos de ansiedade frente à percepção de uma ameaça: a “realística”, justificada pelas circunstâncias de perigo externo, real, e “ansiedade sinal”, acionada por conflitos inconscientes ou traumas prévios, e borrou a nítida fronteira entre ambas, advertindo que podem coexistir.

 Na microscopia das reações de cada indivíduo à situação da epidemia atual, encontram-se, como regra, componentes pessoais, além dos fatuais, sustentando reações equilibradas, de alarme ou de negação. Sob o vértice grupal, igualmente, fatores inconscientes coletivos influenciam as reações de cada pessoa. Um grupo alarmado propaga medo excessivo, contraprodutivo ou paralisante, e pode gerar situações de sofrimento, caos e sacrifícios desnecessários em comunidades ou famílias.

Os séculos passam, e a humanidade dá provas renovadas de que é fortemente sugestionada por fatores que desconhece, em detrimento da razão ou evidências científicas, fenômeno que, paradoxalmente, parece acentuar-se em momentos de crise. Em contraponto, os meios de comunicação confiáveis repassam informações balizadas, recomendações preventivas oficiais e travam dura batalha por espaço na sociedade, ao largo de crendices e opiniões leigas de verniz reluzente.

Por Idete Zimerman Bizzi, médica, psiquiatra e psicanalista – Zero Hora




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