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Artigos • 07 nov, 2019

O chifrinho e o rabinho (artigo)


 

O CORINTHIANS pranteou os judeus vítimas do nazismo, evocando as estrelas de David que Hitler obrigou-os a usar pregadas às roupas. Gesto bonito, correto, aplaudido. Quase ao mesmo tempo um gesto nada brilhante, rigorosamente imbecil e sem noção surgiu no programa de auditório do judeu mais famoso do Brasil: Sílvio Santos perguntou à sua plateia “Qual era o nome do pai de Hitler?”. Interessa? Não, interessa quem foi o filho e o que fez.

Deixa pra lá, a pergunta está no nível do auditório. Passa batido, o Brasil vive em estado de letargia, abulia, no rumo da catatonia. Passado o ruim, veio o pior, o gesto com que Sílvio Santos ilustrou a pergunta: a saudação nazista da mão levantada. O organismo de representação judaica fez pífia condenação, com a ressalva de que Sílvio Santos não teve intenção de saudar o nazismo. Fosse um judeuzinho de brechó, seria exposto à pena de Spinoza: ser pisado na porta da sinagoga.

Óbvio que Sílvio não teve intenção, mas acabou por agir como se tivesse. O auditório talvez não soubesse que Sílvio Santos e Senor Abravanel são a mesma pessoa, este último judeu. Talvez nem saiba o que é um judeu, ou, sabendo, imagina ser um cara com chifrinho e rabinho. Absurdo uma organização israelita abonar como não intencional o gesto que evoca o Holocausto… Condutas nazistas não têm inocência, intenção ou subjetividade. Elas são objetivas, importa o que evocam e o estímulo à repetição.

Suásticas, saudações e símbolos nazistas são fatos objetivos. Se intencionais, são criminosos por comissão; não intencionais, são criminosos por omissão, dolo eventual porque ninguém pode ignorar o que o nazismo representou. Chocam vindos de judeu, ancião, praticante, influente e conhecido. No caso de Sílvio Santos só relevável pela inimputabilidade criminal, causa legítima para também tirá-lo de suas responsabilidades de empresário e de indivíduo sui iuris, dono de seu nariz.

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário




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