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Artigos, Brasil • 26 jun, 2018

Ódio ao Neymar é uma doença autoimune


Esse Macunaíma de chuteiras pode não ser ideal para casar com sua filha, mas é um gênio

Doenças autoimunes são aquelas em que o organismo ataca um pedaço de si mesmo como se atacasse um inimigo, transformando suas defesas em agentes de autoboicote. O Brasil sofre de doenças autoimunes em vários campos, mas em nenhum deles os sintomas são mais agudos hoje do que no futebol.

O foco principal de nossa autoimunidade futebolística tem cabelo descolorido, marra estratosférica e a maturidade emocional de uma criança de sete anos. Tem também, quando está em forma, uma das bolas mais redondas do país em todos os tempos. Sim, em todos os tempos. E estamos falando do Brasil. É difícil relevar os defeitos do Neymar se você não gosta muito, mas muito mesmo, de futebol. Sua imagem pública é a de um menino mimado, autocentrado, fútil, de empatia escassa e senso ético adaptado às próprias conveniências.

Não vamos entrar no mérito do que esses defeitos revelam sobre o país. Ou da ironia que há no fato de tanta gente dar chilique nas redes sociais para acusar Neymar de ser chiliquento. Os problemas do nosso camisa 10 parecem corresponder a traços reais de personalidade e talvez pudessem ter sido atenuados por bons psicólogos e assessores de comunicação.

Agora é tarde. A imagem negativa colou a tal ponto no rapaz que até um fato potencialmente gerador de simpatia, como o de ser o jogador mais caçado do mundo por zagueiros botinudos, se voltou contra ele na forma da fama (em parte merecida) de rei da simulação. Um fenômeno às avessas.

Diante desse personagem complexo, desse Macunaíma de chuteiras, um amante de futebol precisa recordar a todo momento o que dizia João Saldanha ao defender a convocação de “bad boys” (e houve um tempo em que nossa doença autoimune barrou até Romário na seleção): “Não quero ele para casar com a minha filha”.

Não se casando com a filha do Saldanha, mesmo porque a BrunaMarquezine objetaria a isso, resta ao Neymar fazer o que sabe como pouquíssimos: elevar um jogo pedestre e bruto às mais altas esferas celestes, comover estátuas passadas e futuras na galeria mitológica do maior esporte do mundo.

Ainda não conseguiu fazer isso na Rússia, mas torço para que o santo baixe amanhã contra a Sérvia. Ódio ao Neymar, doença autoimune, tô fora. O que tem de gênio babaca na história da humanidade daria para lotar todos os estádios da Copa.

Por Sérgio Rodrigues 

*Publicado na Folha de S.Paulo




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