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Artigos • 28 jan, 2021

A oposição achou uma bandeira (Thomas Traumann)


Impeachment não deve prosperar – Mas cria clima para opositores em 2022 – Crise em Manaus é combustível

Com a provável eleição dos aliados Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) na direção do Senado, no dia 1º de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro consolidará a maior vitória política do seu governo. Será uma demonstração de força que lhe dá influência direta na agenda legislativa e abre caminho para uma ampla aliança partidária em 2022. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que Bolsonaro exibe mais força, mais se fala na possibilidade de um impeachment.

Em termos realistas, o impeachment de Bolsonaro hoje é uma ilusão. O líder da oposição a Bolsonaro na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dificuldades para convencer os deputados do Democratas a não votar no governista Lira. O governador que traz dor de cabeça ao Planalto, João Doria (PSDB), terá pouco mais da metade dos votos do PSDB contra Arthur Lira. No PT, Fernando Haddad assiste sem reação quase metade dos votos se encaminharem para Lira. No Senado, o candidato bolsonarista é do DEM, com apoio do PT e metade do PSDB. Se não conseguem sequer se organizar numa eleição para as presidências do Congresso, como aguardar que esta mesma oposição consiga aprovar um processo de impeachment?

A resposta pode ser medida menos no sucesso improvável da abertura de um processo na Câmara e mais na capacidade de se criar um movimento real de rejeição pública ao governo. Impedidos pela pandemia de marchar pelas ruas, a oposição vivia de panelaços esporádicos e editoriais de jornais. Tudo mudou com Manaus.

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O ultraje público com a negligência de Bolsonaro e seu ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, com a falta de oxigênio para os pacientes dos hospitais no Amazonas transformou a ojeriza ao presidente em raiva. A descoberta que o governo Bolsonaro desprezou ofertas de vacinas da Pfizer, boicotou a Sinovac e ignorou as pesquisas da Johnson&Johnson geraram a sensação de urgência. Com a palavra “impeachment”, a oposição achou uma bandeira única.

No último sábado e domingo (23 e 24/01), ocorreram as primeiras carreatas pelo afastamento de Bolsonaro. Dos petistas ao Movimento Brasil Livre, os atos do fim de semana ocorreram em quase todas as capitais, algo inédito desde 2016. Foram fortes em Belo Horizonte e Rio, fracas em São Paulo, mas abriram um caminho.

Bolsonaro prova agora do mesmo veneno com que trata a oposição: não como adversários com quem se deve conviver, mas como inimigos a serem eliminados. Da mesma forma que a campanha das Diretas Já não forçou o Congresso a aprovar as eleições democráticas para presidente em 1985, o movimento pró-impeachment parece condenado ao fracasso objetivo. Mas também, assim como a campanha das Diretas derrubou o Regime Militar, importa menos se o movimento pró-impeachment vai dar ou não certo do que o desgaste do governo na sociedade e no Congresso. O movimento não é para afastar Bolsonaro. É para vencê-lo em 2022.

Thomas Traumann, 53 anos, é jornalista, consultor de comunicação e autor do livro “O Pior Emprego do Mundo”, sobre ministros da Fazenda e crises econômicas. Trabalhou nas redações da Folha de S. Paulo, Veja e Época, foi diretor das empresas de comunicação corporativa Llorente&Cuenca e FSB, porta-voz e ministro de Comunicação Social do governo Dilma Rousseff e pesquisador de políticas públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Dapp). Escreve semanalmente para o Poder360, sempre às terças-feiras.




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