Este vírus nos faz perceber que o planeta é um só e que dependemos uns dos outros. Se um pequeno grupo de pessoas tem uma relação perigosa (do ponto de vista sanitário) com animais, isso pode custar milhares de vidas. Se alguém não respeita as regras de distanciamento social, a mesma coisa. No mundo globalizado – e não adianta espernear, ele não deixará de ser globalizado – a velocidade de contágio de qualquer fenômeno desse tipo é impressionante.

É a tal interdependência que os ecologistas e cientistas de sistemas já cansaram de explicar, acentuada pela crescente conectividade material e informacional da civilização humana.

Vamos ter que revisar nossa relação com animais domesticados, sobretudo para consumo de carne. Já não é a primeira pandemia global originada nessa relação. Vai ser preciso fortalecer nossos sistemas públicos de saúde ou criar outras maneiras de atenuar os riscos coletivos, como epidemias e variações climáticas. São lições que precisaremos aprender.

Mas, por ora, o urgente é romper uma divisão entre quem acredita que o problema é sério e quem acredita que é obra de alguém. A verdade é que sequer precisamos descobrir a totalidade dos fatos agora, porque o problema, mesmo que tenha sido obra de alguém, pode ser, e é, sério. Não são alternativas mutuamente exclusivas. A urgência é minimizar os danos. É apenas lógico agir da maneira mais contundente possível contra uma epidemia que cresce exponencialmente.

om exceção dos serviços essenciais como saúde, fornecimento de remédios e alimentos, as pessoas precisam estar em casa. Ponto final. Inclusive os prestadores de serviços domésticos (em suas próprias casas, é claro, ouviu madame?). E de maneira remunerada. Não importa se até então só ganhavam pelas horas que trabalhavam. É sua obrigação moral pagar todo mundo que você pagaria normalmente para que fiquem em casa. Use transferências eletrônicas e caixas de correio.

Trata-se de uma situação excepcional, as regras normais não se aplicam. Não é porque não estava previsto em contrato que não precisamos acudir as pessoas. Se alguém tiver que sair de casa, por não receber o que ganharia normalmente, e pegar o vírus, você terá sangue nas suas mãos.

Perguntam-me se o PIB ainda vai crescer. A resposta é não importa. Aliás, nunca importou. PIB é só dinheiro girando. Gira, gira, e fica nas mãos dos mesmos. Os que agora se recusam a pagar seus funcionários

Por Igor de Oliveira – consultor empresaria = Zero Hora = RS