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Artigos • 04 dez, 2021

Preparado para se trancar em casa?


(por Mariliz Pereira Jorge) – 

Nem bem comecei a abraçar a vida e os desconhecidos e lá vem a bomba de mais uma variante do coronavírus

Diante das notícias de que ômicron está entre nós, estou dividida entre ler tudo o que tem sido noticiado e esperar mais alguns dias para saber se estamos de boa ou se ferrou. Não sei você, mas não estou preparada para me trancar de novo em casa. Nem bem comecei a abraçar a vida e os desconhecidos e lá vem a bomba de mais uma variante.

Não é pelo Réveillon ou pelo Carnaval, embora eu já esteja com a roupa pronta para os dois. Tudo bem não pular sete ondas no meio da multidão e não passar fevereiro todinho com purpurina dentro do umbigo. O problema é mergulhar de novo no pesadelo de mortes, no vazio dos dias, na distância do afeto de quem se gosta. Voltar a preencher as horas com ioga, tie-dye e macramê. Se meu marido começar a fazer bolos, depois do esforço que fiz para perder todos os quilos pandêmicos, talvez só nos reste o divórcio. Sem falar numa possível nova onda de lives.

Eu sei que talvez eu pareça uma vaca insensível falando em tédio burguês, mas já disse dezenas de vezes, em outros artigos, que é o pobre quem se lasca de verdade com essa pandemia. A maioria de nós, no máximo, ficará destruída psicologicamente, mas com internet em casa e as contas pagas. Não será diferente se a pandemia nos obrigar a dar marcha a ré neste momento. A desigualdade vai fazer outro strike no país, enquanto a classe média toma zolpidem e faz alguma aula inútil pelo Zoom.

Um olho na Itália, que registra o maior número de mortes desde abril, outro nas notícias que provam que os cientistas estão fazendo horas extras infinitas para salvar a humanidade, inclusive um monte de gente que acredita que vacina implanta chip nas pessoas. Torço muito por Darwin em casos assim.

Nesta sexta (3), li um artigo publicado na The Atlantic, assinado por Monica Gandhi, professora de medicina e chefe da divisão de HIV, Doenças Infecciosas e Medicina Global, do Hospital Geral de São Francisco. Ela está otimista e me deixou um pouco também. Para ela, a pandemia ficará sob controle de duas formas: prevenção, que nada mais é do que vacina, e tratamento para quem desenvolver os sintomas. Nada a ver com os delírios de Naro no país das emas.

Gandhi (como não ficar confiante com esse nome?) parece animadíssima com os remédios desenvolvidos pela Pfizer e pela Merck, prometidos para o começo de 2022. Não só ela. O governo americano, claro, já comprou milhões de ciclos de tratamento (duração de cinco dias) mesmo antes da avaliação final do FDA, a Anvisa dos EUA.

Por outro lado, a Pfizer assinou um contrato com a Medicines Patent Pool, uma organização de saúde pública, apoiada pela ONU, que trabalha para aumentar o acesso a medicamentos para países de baixa e média rendas. É o mínimo. Vacinar e tratar metade do mundo só vai nos garantir uma pandemia sem fim, como temos visto.

“Apesar da chegada da ômicron, ainda temos motivos para otimismo. O ano passado terminou com a autorização de vacinas para Covid-19, altamente eficazes, e 2021 deve terminar com a disponibilidade de tratamentos, também altamente eficazes e direcionados, que ajudarão o mundo a viver com a doença”, escreveu a médica.

Como o ano já acabou, isso talvez signifique que a dobradinha vacina + tratamento, num horizonte não tão distante, nos salve de enlouquecer em outro isolamento forçado, ouvindo Naro enaltecer a cloroquina. Enquanto isso não acontece, que o Brasil siga o exemplo da Alemanha: lockdown para não-vacinados e a possibilidade de tornar a vacina mandatória. Quem quiser brincar de negacionista, que fique em casa.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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