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Artigos • 09 abr, 2020

Quanto valorizamos cada vida?


Quem faz a economia são pessoas, não o contrário; quem salva vidas são pessoas

Uma das primeiras evidências da cultura humana com a qual nos identificamos é o cuidado com outros. Cuidado que vem de longa data, como fósseis dos nossos parentes e ancestrais primatas mostram. Como um Homo erectus adulto que morreu há quase 2 milhões de anos banguela, só com alguns caninos na boca, que passou anos se alimentando de comida macia que alguém provavelmente providenciava.

Shanidar 1 foi um humano neandertal adulto que viveu mesmo tendo perdido pelo menos parcialmente a audição, o olho esquerdo, parte de um braço e do movimento das pernas. Ele não chegaria à idade adulta se não contasse com a ajuda dos outros. Há muito tempo escolhemos fazer nosso destino. É o que todos que fazem o juramento de Hipócrates ainda votam por fazer, adiar a morte cuidando dos vivos. Essa é a fronteira que estendemos a cada avanço da medicina combinada com a ciência.

Agora estamos em um momento da nossa história no qual essa vocação da humanidade será posta à prova mais uma vez. Agora as armas que criamos enfrentando pandemias passadas podem fazer da Covid-19 um surto muito menos letal. Graças às vacinas que desenvolvemos nos séculos 18 e 19, conseguimos extinguir um dos vírus mais letais que nos atormentava por séculos e matou milhões, o da varíola, e sabemos qual pode ser nossa saída. Inventamos os respiradores e muitos cuidados das UTIs nas décadas de 1950 e 1960 para lidar com o lado debilitante da pandemia de poliomielite que paralisou os músculos de tantas crianças. Desenvolvemos remédios antivirais para salvar vidas que seriam perdidas para a Aids, outra pandemia que ainda está em curso, embora mais lento.

Foi essa cultura que nos trouxe até 2020 com a maior população humana que o mundo já viu, mas com a menor proporção de humanos desnutridos que o mundo já viu. À base de muita ciência e de muito crescimento econômico e às custas de muito uso de recursos naturais. É do alto desse conforto que enfrentamos uma versão turbinada de uma velha ameaça. Uma pandemia de um vírus respiratório capaz de se espalhar tão rapidamente e para tantas pessoas que nos fez encolher a maioria das economias.

Folha – Átila  Iamarino – Continue lendo

 




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