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Artigos • 28 jun, 2022

Quem é todo o bastante de ainda ter esperanças na terceira via?


(por Joel Pinheiro da Fonseca) – 

Nomes não faltam, mas ninguém acredita que tenham chance na eleição

Ainda acho que encerrar o desastre que é o governo Bolsonaro é prioridade inegociável, mas também não quero ver o Brasil retroceder a um governo do PT que não só não reconhece os erros que geraram tanto a crise econômica quanto a revolta antipolítica como os reforça, com mais ênfase do que nunca.

Muito se falou sobre a terceira via desde o ano passado, mas nada mudou. Comentar pesquisa eleitoral é um tédio sem fim. O apoio a Bolsonaro está no mesmo patamar há dois anos. A intenção de voto em Lula também não sai do lugar, que é o de uma vantagem confortável e com chances de vitória no primeiro turno. Se uma pesquisa apresenta uma ligeira modificação, lá vem a próxima indicar o retorno à média.

Ciro mantém seus 7%. Simone Tebet conseguiu um apoio de figuras importantes e de alto nível intelectual e político, mas continua incapaz de se fazer ouvir pelo grande público. E não há só ela: Felipe D’Avila, Luciano Bivar, Pablo Marçal, André Janones. Nomes não faltam, mas ninguém acredita que tenham chance. Havia uma conversa de que em algum momento as candidaturas se unificariam. Francamente, isso não importa, pois nem se somássemos todos o resultado chegaria próximo do segundo colocado.

Bolsonaro se agarra ao que lhe sobra: acusações de que as pesquisas estão mentindo, tentativas de requentar a desconfiança das urnas, a turbinada no Auxílio Brasil, discursos enraivecidos contra a Petrobras, novos latidos golpistas sem a menor firmeza. O combo inflação e pesquisas sempre negativas é propício a decisões intempestivas e escorregões. Quem sabe…

Seria tão bom vê-lo derreter! Possíveis novos escândalos não faltam. Só na última semana, tivemos dois: a volta da propina do MEC com a prisão de Milton Ribeiro e a menção pelo ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco de que o celular funcional que devolveu ao deixar o cargo continha provas incriminadoras de Bolsonaro. Será que esse celular de sua época no cargo ainda guarda essas provas? Não duvido de nada.

O que eu duvido é que isso importe. Se a sequência de crimes —inclusive resultando em milhares de mortes na pandemia— em três anos e meio não fizeram nem o Ministério Público nem o Congresso se mexer, agora é que não será. Quem apoia Bolsonaro até hoje mostra que topa tudo, por pior que seja.

Assim, não resta nada a fazer. Você, que é da terceira via, não gaste sua energia tentando convencer parentes e amigos. Aproveite o churrasco em família, converse sobre outras coisas, na mais tranquila convicção de que nem o seu maior esforço mudaria nada nesse cenário. No que depender dos homens, o resultado já está definido.

Resta apenas o imponderável, o nome dado a todos os eventos imprevisíveis e que podem bagunçar a corrida eleitoral. Em 2014, tivemos o acidente de Eduardo Campos, em 2018 a facada em Bolsonaro. Um mundo em que nenhum evento improvável aconteça é, ele próprio, improvável. A única mudança possível é a que não vem de nós. Só não nutra esperanças. Quando ficamos à espera de um milagre, quando a situação do mundo parece exigi-lo por direito de justiça, aí é que ele não vem mesmo.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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