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Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

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Artigos • 09 nov, 2020

Representação pandêmica


(por Thea Tavares ) – 

Entramos na semana da reta final das campanhas eleitorais para a escolha de prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros. Que representação popular sairá dessas urnas contaminadas pelo ambiente da pandemia do novo coronavírus? Logo saberemos. Acredito até que antes mesmo da contagem do último voto oficial das eleições nos Estados Unidos da América, teremos nossa resposta. Mas a suspeita é de que, chegando nesse esclarecimento, a gente vá preferir nem ter se perguntado.

Que candidatos ou instituições vão conseguir convencer mais gente a sair de casa para votar? Sob que argumentos? Os do velho conhecido ou algum outro do tal de novo normal? Se as reflexões e o autoconhecimento provocados pelo isolamento social falarem mais alto, talvez tenhamos alguma chance de sermos surpreendidos positivamente com esse exercício democrático. Mas os bichinhos especuladores que me caraminholam os pensamentos estão virando a cabeça para um lado e para o outro, com aquela cara de “santa ingenuidade!”, profetizando um cenário em nada promissor. Os argumentos que pesarão mais nestas eleições, como nas outras, tendem a ser aqueles relacionados ao poder econômico.

Para quem a vida já voltou ao ritmo normal, seja pela necessidade imperativa da sobrevivência, seja pelo negacionismo simples, que transforma cada atividade externa em uma roleta russa, é bom não esquecer de que o voto continua sendo obrigatório, com todos os cuidados (por parte da Justiça Eleitoral) e descuidos (da parte do eleitor) naturais deste momento, até porque ainda não existe vacina disponível na praça para combater a Covid-19. Para quem se encontra praticamente confinado há mais de oito meses, a campanha passa cantando os pneus pela janela, desfila nas ruas do bairro, disputando espaço com os motoboys de entrega de comida, ou se mostra nas telas dos aparelhos que acessam as redes sociais, não sem antes passar pelo filtro dos algoritmos que limitam o alcance de nossa visão nesse ambiente digital.

Com ou sem as restrições deste ano atípico, para quem não tem bolso cheio de argumentos convincentes, a saída continua sendo pela via do gastar sola de sapato e do gastar também um eito de verbo no convencimento do eleitorado, agora ironicamente abafado pelo uso de máscaras de proteção. A dúvida está em como fazer isso neste momento. As eleições, embora sejam um mecanismo prático e concreto de transformações, que possibilitam (e muitas vezes induzem) a materialização das vontades individuais e coletivas, mexem com o emocional, com as esperanças, sonhos e projetos de vida e de sociedade. Portanto, ainda dá tempo de “campear” simpatias e adesões da maneira mais criativa possível.

Ao longo das décadas, essas campanhas foram diversificando seus apelos e armas. Tivemos o auge da publicidade, com a ação dos marqueteiros, depois vieram as batalhas na arena da judicialização do processo eleitoral e, mais recentemente, a sombra combinada dessas duas influências no bombardeio de mensagens (na esmagadora maioria dos casos, de mensagens falsas) pelo Whatsapp das “melhores famílias”. Que representação popular, no sentido de espelhar o conjunto da nossa população, podemos esperar do resultado eleitoral que sairá das urnas no próximo domingo? Dá três tipos de medos só a formulação desse questionamento… Feche os olhos, bata na madeira e dê três pulinhos. Contagem regressiva: a sorte está lançada!




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