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Artigos • 19 out, 2020

Um tempo de máscaras


(por Thea Tavares)

Num tempo em que todos usam máscaras como escudo de autoproteção, é preciso escavar e enxergar além das carapaças para diferenciar o que é sincero, verdadeiro e particular. Os desejos da alma humana não foram calados, sequer contidos. Estão apenas sob disfarce, seguem latentes, pulsantes e sempre à espreita.

Também faz-se necessário manter a intuição aguçada, justamente calibrada, para identificar pistas e sinais nas mensagens transmitidas pelo e apesar dos distanciamentos. Daí, é confiar no bom e velho sexto sentido para rastrear nos silêncios e nas ausências as sensações que atravessam as projeções, as peles, paredes, os muros e os caminhos… Que se atravessam, entrelaçam-se, se confundem e se acomodam nessa quietude segura e controlada pelo rigor do instinto de autopreservação e por aquele incessante receio das entregas.

Um tempo de máscaras que dificultam a expressão é também um tempo de percepções e de forte audição. Sons e vozes, vindos por uma diversidade de meios, querem comunicar e dar significados ao que não se diz, mas que grita por dentro. Vêm driblar bloqueios e estabelecer uma presença, até uma cumplicidade, impressa em forma de tatuagem, que o tempo pode esmaecer, mas não apaga. E a gente se distrai e se arrasta por essas horas, vasculhando maneiras de tornar especial e memorável cada pequeno detalhe e as maiores insignificâncias, desapercebidas no piloto automático da velha normalidade.

Afinal, o que é real? Tudo o que a gente constroi e materializa a partir da própria imaginação, desejos e ambições. As oportunidades se impõem à nossa frente na altura e na medida dos obstáculos. Com ou sem máscaras, fazemos nossas escolhas, respondemos por elas e extraímos aprendizados. O funcionamento mais elementar da vida não mudou de repente e as regras nesse jogo continuam sendo as mesmas. Quem não deveria paralisar, esconder-se e se enclausurar atrás de máscaras e de escudos é cada um de nós, para agarrar com sabedoria essa oportunidade, nesse lapso de tempo, de verdadeiramente ser e fazer sentido num mundo que desde sempre foi carregado de mistérios, invisibilidades, de disfarces e de dissimulações.  Permita-se brilhar!

Logo, os medos vão se desfazer, ganhar leveza e vão desaparecer. A natureza humana vai gritar alto e voltar a aprontar das suas: de equipamento de proteção, um dia, as máscaras serão apenas acessórios. Indispensáveis neste e em outros momentos semelhantes, mas vestidas como uma roupa que a gente tira e troca, lava e combina. Os desejos, não. Alimentados ou reprimidos, eles seguirão se manifestando e exigindo da gente a percepção, a convivência e a assertividade.




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