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Brasil • 12 set, 2018

‘Até quem está preso continua popular’, diz FHC


Temos uma situação hoje no Brasil “paradoxal, onde até quem é preso continua popular”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em palestra sobre o comportamento ético e convicção social em evento em São Paulo. O comentário veio no bojo de observações feitas ao descrever conflitos vividos pela sociedade em função de mudanças no comportamento e nas percepções em relação à política. Nesse sentido, fez menção também ao atentado à faca contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) na quinta-feira passada. “Pinheiro Machado foi o último a ser esfaqueado, era senador. Qual é o efeito? Depende da narrativa”, pontuou. As informações são de Cynthia Decloedt no Estadão.

FHC disse que o Brasil está passando a limpo tradições, comportamentos e valores, muitos enraizados na nossa cultura, citando como exemplo a nomeação de familiares na sucessão de cargos políticos, o que a população muitas vezes entende como natural. “No passado se dizia que poder que não abusa não é poder. O que está acontecendo no Brasil é que a cultura está mudando e as instituições estão mudando. O que está na Constituição começa a ser percebido como ser o que deve valer”, disse.

Segundo ele, grande parte das incertezas que acometem o País vêm dessa mudança de comportamento da sociedade e não unicamente das revelações da Operação Lava Jato, que mostraram um sistema de financiamento da classe política. “A dinâmica da sociedade fragmentou a antiga estrutura e as classes se movem com mais rapidez, e a sociedade se organiza em torno de interesses e não de setores da sociedade, com ideias progressivas e de integração”, afirmou.

FHC ressaltou também que a tecnologia de informação, que promove a interconexão de pessoas e elimina as fronteiras, contribuiu para fazer com que informações que muitos políticos conseguiam manter como inacessíveis chegassem ao julgamento da sociedade. “Essas estruturas são mais relevantes do que o Estado-Nação”, pontuou. FHC mencionou ainda que o sistema de decisão, como o que se vive hoje nas eleições, passou a incorporar julgamento quanto ao comportamento correto ou incorreto da classe política.

Durante a palestra, FHC lembrou várias vezes que escândalos de corrupção estiveram presentes ao longo da história da vida política brasileira e que o grande feito da Lava Jato foi mostrar a organização de um sistema de financiamento da classe política por meio do setor privado. “Esse sistema corrompeu a democracia. Foi isso que a Lava Jato demonstrou”, disse. Para FHC, a constituinte de 1988, da qual ele participou, pecou por não limitar a criação de partidos. “Estávamos preocupados com a liberdade, dado que vínhamos de um regime militar”, citou, lembrando que “em algumas ocasiões nem o habeas corpus funcionava”. “A consequência foi a tremenda fragmentação do poder político, em função em parte de nossa matriz cultural, onde com algum poder as pessoas tentam chegar próximo ao cofre”, comentou.

As informações são de Cynthia Decloedt no Estadão.




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