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Crônica

Crônica • 28 jun, 2020

Difícil ser feliz (Lya Luft)


Estamos nervosos, irritados, assustados, ou fingindo não ser nada de mais

Nestes dias sombrios, nestes tempos escuros, confusos, politicamente insanos e quanto à saúde do mundo mais confusos ainda, perigosos, assustadores – ou somos todos uns bobos manipulados??? –, parece até coisa de Pollyanna falar em ser feliz.

Parece mais um insulto, como dizer ao quase enforcado no cadafalso que assobie um sambinha. Está difícil. Estamos nervosos, irritados, assustados, ou fingindo não ser nada de mais e saindo às ruas sem máscara nem cuidado, todo mundo se contaminando, a covid piorando por quase toda parte, e a gente fazendo de conta que não é nada.

Ando cansada dessa loucura. Cansada do nosso mau humor, irritação, medo e agressividade ou falsa alegria porque temos medo. Me faltam palavras boas, bonitas, tranquilizadoras, porque está tudo muito ruim mesmo, e nem bandeira vermelha ou preta ou dos infernos convence muita gente a se cuidar. A ficar em casa se puder, a usar máscara e álcool gel, a não se amontoar. A não encher a paciência alheia com medos, sustos, fragilidades e humores péssimos.

Está difícil, sim. Nem pensar em ser “feliz”, ou alegrinho, ou dançar e cantar, porque ficar meio calminho já é muito.

Além do mais, a política no país está um lixo, uma confusão, uma brincadeira de maus palhaços que nos submetem a caprichos, mentiras, horrores mil, e nem sabemos como reagir ou a quem reclamar.

O que está acontecendo neste país? Neste mundo em que o presidente do dito maior país do mundo brinca de modo sinistro com a peste do século 21? Não sei o que dizer nem a quem reclamar, mas, por favor, vamos procurar um pouco de calma e bom senso.

Meu pai, velho e brilhante advogado, dizia que a lei tem pouco a ver com bom senso. Pode até ser, ele sabia das coisas. A lei não garante a justiça, ok. Mas alguma sensatez, alguma grandeza, alguma bondade (be kind), algum respeito podem nos ajudar a passar por este tempo infernal, no qual talvez não muitos sobrevivam, mas os que sobreviverem terão de ser fortes, justos, iluminados e capazes de levar adiante este mundo em pandemia de doença e de inteligência, de calma, de grandeza.

Sim, hoje não estou boazinha. Eu não sou boazinha. Hoje não estou calma, não quero estar calma, nem parecer madura, ou velha e experiente, ou superior, com todos esses atributos que colocam em cima da figura de alguém velho, maduro, experiente e tudo o mais.

Não sei o que estamos fazendo conosco, nem uns aos outros. Sei que precisamos de solidariedade, camaradagem, rigor nos cuidados e seriedade no modo de encarar essa Peste que assola a humanidade inteira e não está de brincadeira, ah não.

Para que, tudo passado, a gente seja uma humanidade razoável, não um bando de trogloditas agressivos, grosseiros e cruéis.

Fonte – Zero Hora – RS




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