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Política • 21 dez, 2021

2022 vai ser pior, e a guerra está apenas começando…


(por Joel Pinheiro da Fonseca_ – 

Radicalização nas redes sociais segue a todo vapor e promete ser mais violenta que em 2018

A se acreditar nas pesquisas até agora, a vitória de Lula no ano que vem é líquida e certa. E que Bolsonaro perderia no segundo turno contra qualquer oponente. Conforme nos aproximemos da eleição, contudo, tudo pode mudar. Não devemos descartar Bolsonaro tão cedo.

O presidente tem um ativo que nenhum outro candidato, até agora, tem: engajamento e militância. Nas ruas, a diferença é gritante: protestos enormes; aglomeração de apoiadores para aplaudi-lo onde quer que vá. O mesmo não acontece com Lula. Não há contradição entre liderar com folga as pesquisas e não ter engajamento popular —Biden que o diga. Mas a desigualdade de engajamento indica, no mínimo, que Bolsonaro terá larga vantagem no número de voluntários a seu favor no ano que vem.

E ele também aprendeu a usar os meios mais eficazes para manter essa vantagem: as redes sociais. A radicalização via redes sociais (incluindo os aplicativos de mensagem direta) segue a todo vapor, e 2022 promete ser ainda mais sujo e violento que 2018. Foi uma mostra de seu poder o feito de mobilizar mais de 2 milhões de pessoas para votar em Bolsonaro como Pessoa do Ano na enquete da revista Time no início do mês. E o aplicativo utilizado para isso, o Telegram, tem tudo para ser a principal arma do combate eleitoral.

O Whatsapp, concorrente do Telegram, vem tomando medidas para enfraquecer o poder de difusão de conteúdo polarizante. O número máximo de membros num grupo é 256, só é possível replicar um conteúdo para cinco outros perfis simultaneamente (limitação que entrou em vigor em 2019). Com conteúdos altamente replicados, esse número cai para um. No Telegram, nada disso vale. Os grupos podem chegar a 200 mil membros cada, e a difusão de conteúdo é completamente livre.

É no mínimo irônico que essas ações do WhatsApp para coibir as fake news funcionem na exata medida em que tolhem justamente o fator distintivo das redes sociais: dar a todo e qualquer cidadão a possibilidade de se manifestar para as multidões. Limitar as redes parece dizer “queremos que o cidadão comum se manifeste, mas não muito!”. A única salvaguarda que nos protege contra líderes populistas é a limitação do poder que poderia estar nas mãos do cidadão comum, e isso por decisão de uns poucos bilionários da tecnologia?

Meu lado otimista prefere acreditar que não: a sociedade ainda vai amadurecer no seu uso da informação. Mas um olhar realista também vê limites nessas salvaguardas democráticas criadas pelas big techs.

Os grandes magnatas das redes concentram, de fato, muito poder. Nada garante, contudo, que esse poder seja duradouro. Mark Zuckerberg, por mais que tente nos convencer que a próxima revolução virá de sua empresa e do “metaverso” por ele criado, hoje se preocupa com o fato de suas redes serem incapazes de atrair usuários mais jovens. E isso enquanto os olhos da política mundial voltam-se todos contra ele, cobrando novas restrições para combater fake news. A cada nova restrição, mais atraente se tornam seus rivais, como o Telegram, onde há mais liberdade.

O poder vai aos poucos passando de mãos, indo para aplicativos como o Telegram e TikTok, empresas respectivamente russa e chinesa, países cujos governos têm todo o interesse em controlar a livre expressão, mas não em direções que favoreçam a ciência e o conhecimento objetivo. Não está claro como venceremos esses tempos de “pós-verdade” e polarização. Mas a ameaça que eles trazem continuará conosco muito além de 2022. ​

*Publicado na Folha de S.Paulo




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