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Política

Política • 12 set, 2018

Entraves para o novo governo (Editorial Estadão)


Continuam piorando as projeções para a economia brasileira em 2018. A um mês da eleição presidencial, o mercado reduziu novamente o crescimento estimado para este ano, desta vez para 1,40%. Quatro semanas antes a aposta ainda estava em 1,49%. Se as expectativas continuarem declinando, e se as bolas de cristal estiverem bem reguladas, o novo governo encontrará um país quase estagnado, com algum dinamismo apenas na agropecuária. Um tanto estranhamente, o cenário desenhado para o próximo ano é menos sombrio: há dez semanas continua em 2,50% a expansão prevista para o Produto Interno Bruto (PIB). Detalhe notável, esse número é mantido para os anos seguintes até 2021. Será uma declaração de confiança no próximo presidente e em sua base parlamentar, pouco importando os nomes dos eleitos para o Palácio do Planalto e para o Congresso?

É mais fácil entender o aparente pessimismo em relação a este ano. Mas a decisão de cravar 2,50% para o avanço do PIB entre 2019 e 2021 pode ser menos estranha do que parece inicialmente. Há nesse número uma advertência importante para os políticos, em especial para os pretendentes à Presidência da República. Todos os candidatos deveriam dar atenção – ou mais atenção – à pesquisa Focus do Banco Central (BC), uma consulta semanal a cerca de 100 instituições financeiras e consultorias.

O fraco desempenho da economia no primeiro semestre, com o PIB apenas 1,10% maior que no ano anterior, praticamente condenou o País a um resultado medíocre, ou abaixo disso, em 2018. No segundo trimestre, a indústria perdeu vigor e o dinamismo continuou escasso nos meses seguintes, apesar de alguns sinais de melhora. O desemprego continua alto, limitando o consumo das famílias, e o investimento produtivo permanece insuficiente para dar impulso significativo aos negócios. A crise argentina, afetando as exportações brasileiras de manufaturados, é um entrave a mais.

As projeções para a indústria são especialmente preocupantes. Em quatro semanas, o crescimento estimado para a produção industrial em 2018 passou de 2,79% para 2,26%. No cenário de 2019, a expansão projetada caiu de 3% para 2,82%. Para 2020 e 2021, as expectativas têm permanecido em 3%. No próximo ano, portanto, a indústria continuará perdendo peso na formação do PIB. Se essa projeção se confirmar, a fonte principal de empregos de alta qualidade continuará encolhendo. A indústria é também importante por seu efeito irradiador de impulsos para os serviços e por seu papel na absorção e na difusão de tecnologia.

Essas estimativas deveriam ser suficientes para assustar qualquer candidato sério à Presidência da República. Além disso, um candidato sério perguntaria ao assessor econômico por que a projeção de crescimento econômico de 2,50% se mantém de 2019 a 2021.

Qualquer resposta crível deverá conter pelo menos dois componentes. Um indicará a expectativa, talvez otimista, de maior segurança para as decisões empresariais. Essas mudanças favorecerão um ritmo de atividade mais intenso que o observado em 2017 e 2018. Mas por que 2,50%?

A explicação, nesse caso, poderá ser mais complexa e envolverá a noção de potencial de crescimento. O número apresentado nas projeções para 2019, 2020 e 2021 é obviamente um limite. Estimativas do potencial brasileiro têm ficado na vizinhança de 2,50%. Os cálculos do governo também têm estado próximos dessa taxa. A capacidade produtiva e, portanto, de expansão, é determinada por investimentos em capital fixo (máquinas, equipamentos e construções) e pela formação de capital humano. O Brasil tem falhado nos dois campos. O investimento fixo está há muito tempo abaixo do necessário, especialmente no caso da infraestrutura. Quanto à formação de mão de obra, tem sido desastrosa, com prioridades erradas e desperdício de recursos.

Para mover o País, o próximo governo terá de cuidar de suas finanças e também da eficiência e da eficácia das políticas. A segunda tarefa pode ser politicamente mais difícil.




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