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Artigos, Política • 27 nov, 2020

O PSOL e a empreitada ( J.R. Guzzo)


Eis aqui mais um retrato da vida como ela é, e não como imaginam que ela seja nas mesas redondas que discutem política na televisão. Um dos maiores doadores para a campanha do candidato do que se apresenta como de “esquerda-raiz” para a prefeitura de São Paulo não é nenhum sindicato de trabalhadores – e o dinheiro não vem de nenhuma vaquinha de “pessoas em situação de rua”, os grandes clientes nominais do Partido Socialismo e Liberdade (Psol).

Quem aparece na papelada da justiça eleitoral como a terceira maior doadora da campanha paulistana do Psol, com um total de 88.000 reais, é uma herdeira da empreiteira de obras públicas Andrade Gutierrez. E daí? Milionário também é gente; tem todo o direito de doar seu dinheiro para quem bem entende. O problema não está aí. Está numa razão social: “Andrade Gutierrez”.

A construtora, como se sabe, é uma das empresas mais corruptas do Brasil – não porque costumava aparecer regularmente no noticiário da ladroagem nacional, mas porque são seus próprios diretores que dizem que ela é corrupta. Tanto é assim que eles mesmos, por sua livre e espontânea vontade, confessaram os crimes da empresa no assalto geral ao dinheiro público empreendido durante os governos Lula-Dilma.

Mais: fizeram “delação premiada” na Operação Lava Jato. Mais ainda: devolveram ao erário R$ 1 bilhão do dinheiro roubado. (Alguém, “na jurídica” ou “na física”, devolve voluntariamente dinheiro que não roubou? Ainda não se sabe de nenhum caso.)

É a velha história: quando se trata de dinheiro, dizia Voltaire, todo mundo é da mesma religião. A diferença entre os altos propósitos socialistas do partido e o dinheiro da herdeira é igual a zero; política real é isso, e não conversa que só aparece em jornal, rádio e televisão.

O PSOL tem o direito de receber e a doadora tem o direito de doar, é claro, mas sempre é bom ficar claro que as coisas são assim – e que não têm nada a ver com o palavrório de campanha. É o “mecanismo”. É assim que ele funciona.

O maior doador da campanha do PSOL em São Paulo é o cantor Caetano Veloso, outra estrela da nossa elite capitalista, com R$ 100 mil. Mas há uma diferença, aí. Caetano ganhou esse dinheiro unicamente com o seu trabalho – e não se chama Andrade, nem Gutierrez.

J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. .

 

 




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