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Política • 28 out, 2018

Venildo Trevisan: “Preciso ver”


Um homem encontra-se sentado à beira do caminho. Esse homem sofre de uma deficiência visual. Vive de esmolas. Não lamenta nem reclama. Está conformado com a situação em que se encontra. Os passantes já estão acostumados com a cena. Cada qual joga alguma moeda como ajuda e como alívio de consciência. Tudo acontece sem ninguém assumir providência que seja humana e libertadora.

Ninguém toma a iniciativa de analisar a situação e encontrar alguma saída ou alguma providência. Preferem manter o cego em sua condição, por ser mais cômodo e menos trabalhoso. Preferem o silêncio em lugar do socorro. Preferem dar as sobras em lugar de proporcionar uma vida mais honrada.

Mas ele precisa ver. Ele precisa de alguém que lhe abra os olhos e que veja que a situação em que se encontra é cruel e desumana. Ele não pode calar. Não pode silenciar. Precisa gritar. Precisa defender seus direitos de ver claramente sua condição de mendigo e de marginalizado. Precisa reencontrar seu lar, sua família e seus amigos.

Não pode continuar à beira do caminho. Não pode continuar à margem da vida. Não pode se conformar em sua condição de pedinte. Precisa de dignidade, de honra, de autoestima. Precisa assumir uma tarefa que mereça respeito e que produza algo que lhe garanta sobrevivência.

Precisa ver a beleza das flores com suas variedades de cores. Precisa ver a luz do sol, o clarão da lua, a grandiosidade do universo, a imensidão do mar, o encanto das cachoeiras, a pujança das florestas, a harmonia das luzes ao anoitecer e a alegria estampada no rosto dos que se querem bem e se amam.

Precisa superar, não apenas a cegueira física, mas também a cegueira da mente e da fé. Precisa ver caminhos possíveis no campo da ciência e da arte. Precisa ter acesso ao conhecimento de atividades humanas e sobrenaturais. Precisa poder debruçar-se sobre as inúmeras iniciativas, para se sentir importante em alguma delas que lhe abra caminhos para sua realização plena e para contentamento de quem lhe dá ajuda.

Além do mais, ninguém poderá ser impedido de ver e cultivar a imensidão desafiadora do pensamento humano. A ninguém será agradável viver ao lado de pessoas que usam o tempo para lamentar situações e reclamar de certas condições de vida.

Todos precisam abrir os olhos, os ouvidos e a mente para ver, ouvir e pensar o quanto é maravilhoso fazer parte desse universo de arte e de fé, de inteligência e de memória, que leva o ser humano a ser solidário com todas as demais criaturas.

A razão não consegue alcançar essas grandezas e essas maravilhas. Precisa associar-se à fé. Só então o ser humano poderá considerar-se competente para entoar louvores ao Deus Criador e Salvador.

E, quando descobrir essa riqueza e essa grandeza, verá com os olhos do amor a beleza das flores, a imensidão do mar e o infinito do universo. E verá com os olhos da fé a nobreza e a sacralidade da vida sobrenatural na comunhão com a vida de Deus.

Frei Venildo Trevisan – Correio do Estado




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