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Artigos • 16 jul, 2018

Aprender e ensinar – Ruy Castro


Leio nos jornais que só 2,4% dos jovens brasileiros pensam em se tornar professores. Há dez anos, segundo reportagem de Isabela Palhares no jornal O Estado de S. Paulo, essa percentagem ainda era de 7,5%. Os dados são da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A se manter essa regressão, dentro de mais dez anos teremos de importar professores para nossas crianças.

Os motivos para tal desinteresse são conhecidos. Ser professor, em certas áreas das cidades, equivale hoje à possibilidade de, a qualquer momento, apanhar na cara. Não há respeito por parte da classe. Alunos dominam a sala, ignoram a presença do mestre, passam a aula ao celular e, se forem do ensino privado, sabem que têm imunidades junto à diretoria —esta nunca correrá o risco de perder uma matrícula.  Outros motivos para o desinteresse pela profissão são os baixos salários e a falta de reconhecimento social.

O piso fixado pelo MEC para professores que dão 40 horas semanais é de R$ 2.455,35 e, segundo outra reportagem, de Paula Ferreira, no jornal O Globo, há colégios da rede privada que não pagam nem esse mínimo obrigatório. Quarenta horas semanais equivalem a oito horas por dia durante cinco dias da semana. Se somarmos a elas o tempo gasto na preparação das aulas e na correção de provas e trabalhos, não sobra muito tempo para que um professor consiga complementar o salário. Com que dinheiro comprará livros e se dedicará ele próprio a aprender?

Quanto ao reconhecimento, foi-se o tempo em que a nobreza da profissão era valorizada. Hoje, os primeiros a desencorajar os jovens a lecionar são os próprios professores. Se o professor é o profissional com quem o estudante tem mais contato e, se escuta dele essa opinião tão negativa, é claro que buscará outra carreira.

E eu que, inocente, sempre achei que só havia uma coisa mais bonita que aprender —ensinar.

*Publicado na Folha de S.Paulo

 

 




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