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Política • 07 abr, 2025

Uma radiografia da gestão de Ednaldo Rodrigues na CBF


(por Allan de Abreu, na revista piauí) –

A Seleção Brasileira de Futebol caiu nas quartas de final na Copa do Mundo do Catar, em 2022, frustrando milhões de torcedores, mas um grupo de 49 brasileiros fez a festa. Usufruíram de mordomias durante as três semanas em que o Brasil esteve vivo na competição, com direito a hotel cinco estrelas e ingresso para assistir às partidas. Muitos tiveram atendimento vip na chegada ao Aeroporto Internacional de Doha, alguns voaram de primeira classe e pelo menos um ganhou cartão corporativo para gastar livremente até 500 dólares por dia (2,5 mil reais). Tudo à custa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a mais alta entidade do futebol nacional, embora nenhum dos 49 tivesse relação direta com a confederação ou as federações estaduais.

O presidente da CBF, o baiano Ednaldo Rodrigues, também espetou na conta da confederação as despesas de sua família – a mulher, a filha, a cunhada, o genro e os dois netos. Todos voaram em primeira classe, usaram o atendimento vip no aeroporto de Doha, hospedaram-­se no Marriot Marquis City e só as despesas extras da mulher do presidente da CBF na hospedagem bateram em 37 mil reais. Não chega a ser uma exorbitância, sobretudo para uma entidade que fatura 1 bilhão de reais por ano, mas é o suficiente para macular a gestão de quem, meses antes, assumira prometendo “expurgar toda e qualquer imoralidade”.

Além da própria família, Rodrigues se lembrou dos amigos – amigos da política, do Judiciário, da imprensa, das artes. A CBF pagou hospedagem, voo – desta vez, de classe executiva – e ingressos para três partidas ao deputado federal José Alves Rocha (União Brasil-BA), que viajou com a mulher Noelma. O gasto total da CBF com o casal Rocha chegou a 364 mil reais. Para o senador Ciro Nogueira (PP-­PI), que foi acompanhado da namorada Flávia Rosalen, a entidade ofereceu um pacote mais modesto, que saiu por 195 mil. Os dois – o deputado e o senador – integram a “bancada da bola” no Congresso. O senador Jaques Wagner (PT-BA) também foi convidado, mas ficou retido no Brasil em meio às negociações da transição de governo. Em seu lugar, foi o filho Mateus, de 47 anos.

Entre os 49 felizardos, estavam também o cantor Gilberto Gil e sua mulher Flora, a socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho, o desembargador Julio Cezar Lemos Travessa, do Tribunal de Justiça da Bahia, o empresário pernambucano Diogo Monteiro Lima, o estilista Ricardo Almeida (que desenhou os ternos dos jogadores da Seleção para a Copa), o ex-­cinegrafista da TV Globo, José Carlos Cruz da Silva, o Mosca (a quem a CBF deu aquele cartão corporativo de 500 dólares diários) e outros três jornalistas da Bahia, todos amigos de Rodrigues. A conta total não inclui os presidentes das 27 federações estaduais, mas fecha em 49 contando com suas mulheres e filhos. A maioria ficou no City Centre Rotana, outro cinco estrelas de Doha.

Ninguém na imprensa, ou fora dela, deu muita atenção à farra dos 49. Afinal, não foi a primeira vez que a CBF bancou convidados sem conexão com o futebol em suas turnês no exterior. Na Copa de 1998, na França, por exemplo, o então capo da confederação, Ricardo Teixeira, levou cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em cuja pauta havia matérias de interesse da entidade. Mas, desta vez, até funcionários da CBF com várias copas no currículo acharam que a farra foi longe demais. Estima-­se que tenha custado uns 3 milhões de reais aos cofres da confederação.

“Quem deveria fiscalizar essa farra, pelo estatuto da entidade, são as federações estaduais”, diz um dos oito vice-­presidentes da confederação, que pediu para não ser identificado. “O problema é que essas federações reproduzem o mesmíssimo comportamento. É um sistema viciado.” O vice-presidente apoiou Rodrigues na eleição de 2022, mas se diz um crítico da malversação dos recursos da entidade na atual gestão. “Ednaldo não é o primeiro presidente da CBF a desviar recurso da entidade para fins pessoais. Mas ele com certeza elevou essa prática a um nível preocupante”, diz. Continue lendo 




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