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Artigos • 05 maio, 2022

A eleição da desesperança


(por Célio Heitor Guimarães )

A minguada presença do público em ambas as manifestações políticas convocadas para domingo passado é a prova inconteste do desinteresse da população pelas eleições deste ano – especificamente em relação aos dois candidatos tidos como favoritos nas pesquisas de votos.

Terá o eleitor, enfim, se conscientizado da desgraça que o espera nos próximos anos com a vitória de um ou de outro? Oxalá tivesse. No entanto, a polarização hoje existente, as manifestações de incompreensão, de violência e de ódio de parte a parte, sobretudo dos ensandecidos que cultuam a maligna figura daquele cujo nome não deve ser citado, fazem-nos acreditar que não. Ao contrário, o que vem por aí é assustador.

O pior é que não existe terceira via. Os pretensos candidatos batem cabeça, rateiam e não saem do lugar.

O meu candidato queimou a largada ao ser iludido pelo inominável do Planalto Central. Para tristeza dos meus queridos amigos Edson Dallagassa e Mário Da Montanha, era o ex-juiz Sérgio Moro. Eu achava, como ainda acho, que a Operação Lava-Jato foi a melhor coisa que surgiu no Brasil desde o descobrimento. Bandidos contumazes, assaltantes dos cofres brasileiros, patifes da A a Z foram parar no xilindró; milhões de dólares surrupiados do erário voltaram aos cofres públicos. Pela primeira vez na História, a esperança tomou conta da população. E até passamos a achar que, sim, o Brasil tinha jeito. Pura ilusão. Não se mexe com os poderosos, com a elite dominante, com os donos do capital, impunemente. O pessoal é insidioso, age nas sombras, ataca pelas beiradas. Começou com uma merreca procedimental sem nenhuma importância; depois, levantou-se uma conduta errada no máximo discutível… O devido processo legal, como apregoa o meu amigo Dallagassa! E os ídolos foram esfacelados de uma hora para outra. O sucesso é uma merda e a inveja enlouquece. O fogo chegou de todos os lados, com a prestimosa ajuda da mídia. E unanimidades nacionais passaram a ser meliantes, xingados em praça pública e todo o trabalho foi desfeito. Até um ex-presidente, comprovadamente atolado na indecência, saiu da cadeia direto para o palanque presidencial.

Reafirmo: Moro não devia ter deixado a magistratura e, muito menos, perfilar-se diante de um psicopata sem nenhuma credibilidade. Isso não invalida a sua belíssima atuação na Justiça Federal, mas deu munição para o inimigo e afastou-o da disputa eleitoral. Lamentável.

O problema é, como eu disse acima, a terceira via. Não há. O cearense-pindamonhangabense Ciro Gomes talvez seja o mais preparado para o cargo, tem experiência administrativa e vivência política, mas é imprevisível, talvez bipolar, e assusta os próprios correligionários. João Doria, convenhamos, fez um bom trabalho no governo de São Paulo, pôs em ordem a economia do Estado, fez o ajuste fiscal e foi o responsável pela largada da vacinação contra a Covid-19 no Brasil – não fosse o trabalho do Instituto Butatan, o destrambelhado de Brasília não haveria se mexido. Mas Doria não consegue conquistar a confiança do eleitorado. Também não consegue livrar-se da pecha de “mauricinho” da Faria Lima, figura de proa da elite paulistana.

Sobra Simone Tebet, cujo destaque na CPI da Covid revelou uma liderança até então desconhecida. Filha do ex-senador e ex-governador de Mato Grosso do Sul Ramez Tebet e, ela própria, duas vezes prefeita da Três Lagoas (MS) e vice-governadora do seu Estado, ganhou destaque pela garra, pela coragem e pela competência. Enquanto a maioria dos integrantes da CPI usavam a Comissão como palanques eleitoral, Simone mostrou os absurdos e os crimes cometidos pelo governo. Com provas nas mãos.

Gostaria de ver a senadora Simone Tebet no Palácio do Planalto. Mas, infelizmente, a sua popularidade está circunscrita ao eleitor mais esclarecido, o seu partido não ajuda e ela é mulher. Nada contra o poder feminino, ao contrário, mas aquele eleitor menos esclarecido há de lembrar-se de Dilma Rousseff, de passado recente. Uma pena.

Ao que tudo indica, a eleição de 2 de outubro de 2022 será aquela em todos perderemos. Sobretudo o Brasil.




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