Esse foi um ano difícil para mim porque passei muito tempo em países dos mais miseráveis na África e na Ásia. São realidades que socam o estômago mesmo de quem lá está em uma posição extremamente privilegiada. Diariamente vemos alguma cena que nos parece inacreditável.

Algo que eu não esperava ver de maneira tão prevalente é a profusão de teorias da conspiração. O que vivemos no Brasil já é grave, mas aqui falo de uma escala totalmente diferente. Um papo constante sobre a dominação mundial por meio das vacinas, do 5G, das sociedades secretas. Conteúdo muitas vezes produzido no Hemisfério Norte sob encomenda para audiências do Sul.

Quando finalmente encontramos alguém um pouco mais racional, caímos em outra armadilha que até então eu não imaginava. A elite política e econômica de alguns países é viciada em “análise de conjuntura”, um tipo de leitura do mundo que cheira a mofo. Quase tudo pode ser explicado pelo preço do petróleo, a evolução do domínio territorial dos EUA ou da Rússia, um movimento estratégico de algum oligarca. Funciona principalmente para retirar qualquer traço de responsabilidade do governo preferido de quem faz a análise, seja presente ou passado.

Se seguirmos esse caminho, temos tudo para degradar nossa democracia ainda mais, e chegar ao fundo do poço no que diz respeito a prover uma vida decente à população

Aos poucos, me dei conta que no Brasil temos uma esquerda antiga que adora “análise de conjuntura” ao mesmo tempo em que a extrema direita aderiu a um pragmatismo digital. Vale todo tipo de tecnologia para entender as profundezas do eleitor e usar esse conhecimento para virar voto. Criar teorias da conspiração e ligá-las aos “comunistas” e “globalistas”.

Se seguirmos esse caminho, temos tudo para degradar nossa democracia ainda mais, e chegar ao fundo do poço no que diz respeito a prover uma vida decente à população. A polarização como está já é assustadora, mas, aviso, pode ficar muito pior. O ano eleitoral vai ser determinante, visto que tanto os conspiracionistas quanto os analistas vão tentar criar narrativas convincentes sobre quão maléficos são os centristas, por puro medo da mudança. Oxalá não acabem de vez com nossas instituições.

Fonte – Zero Hora – RS