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Artigos • 16 set, 2018

Artigo: Sabedoria e malandragem


“Eu só peço a Deus // Um pouco de malandragem // Pois sou criança e não conheço a verdade” (Cássia Eller)

Esta não é uma mensagem de desesperança; ao contrário, é um depoimento de um velho e experiente advogado que não conhece a verdade.

Ao assistir o vídeo de Lula na campanha deste ano, senti saudades da sua primeira eleição vitoriosa, na qual, após sua “Carta aos Brasileiros”, o insistente candidato conseguiu ludibriar os brasileiros e derrotou o ilustre e, à época, respeitável senador da República José Serra.

Eu havia votado em Lula quando foi derrotado por Fernando Collor. Com o tempo, o país viu que nenhum dos dois era o melhor. Desperdiçamos os votos e adiamos a decepção.

Na sucessão de Fernando Henrique, votei no candidato do ex-presidente, mas acreditei que Lula poderia ser melhor para o Brasil; era um mensageiro vindo do povo e poderia complementar os avanços dos governos tucanos, mantendo programas sociais e incluindo os trabalhadores no desenvolvimento do país.

Lula era a esperança de milhões de brasileiros e se transformou no mensageiro do caos, apoiando a eleição de Dilma que, guerrilheira, encostou o líder na parede e exigiu a reeleição. Vitoriosa, espalhou pelo mundo a sua caricatura de “presidenta”, expondo a nossa pobreza de espírito e a compreensão do mal que nos fez.

Derrotando Aécio Neves por alguns míseros votos, Dilma nos presenteou com um governo tão inexpressivo que foi retirada do poder antes de concluir o seu mandato, mas evitou que viéssemos a ser governados por um presidente descuidado, despreparado como ela, e capaz de se expor na mídia como marginal. Esse fato, mais um que nos maltrata, levou o seu partido a se igualar aos demais que dominaram o país e que, com muita dificuldade, estamos eliminando da política.

Nestas eleições, mesmo com controle maior dos eleitores por meio das redes sociais, o conluio de malandros e sabidos continua na propaganda política, em que aparecem uns e outros apoiando ou pedindo votos para candidatos que imaginam estar seguros atrás do foro privilegiado; é bom esquecer os tempos de outrora nos quais a prescrição chegava como uma benção.

Candidatos novos com discursos velhos prometem corrigir os erros dos governos anteriores mesmo sabendo que a grande dificuldade será governar com um Parlamento de maioria reeleita pronta para negociar cargos, favores, nomeações e tantas outras insidiosas propostas.

É por essas razões que os candidatos realmente novos são observados com atenção, apesar de impossibilitados de participar dos debates; apresentam suas ideias e as divulgam nas redes sociais, abrindo caminho para candidaturas que, no futuro, poderão ser a mudança que todos esperamos.

O candidato líder das pesquisas eleitorais, Jair Bolsonaro, com sua mensagem belicosa, suavizada pela violência que o atingiu de forma torpe, teve sua campanha e o seu corpo atingidos pela punhalada pela frente, alertando-o para os ataques que virão pelas costas, se atingir a presidência.

Bolsonaro parece ter conquistado eleitores por todos os cantos do país. A campanha dele e do seu vice, o Mourão, é como o incêndio que devastou o Museu Nacional no Rio de Janeiro; queimam tudo, transformam em cinzas seus oponentes e, mesmo nos debates ou entrevistas, têm sempre uma resposta que não agrada o interlocutor, mas faz o povo divulgá-la como se fosse uma boa piada que passa de boca em boca, e logo todos a conhecem.

Se o Messias ganhar a eleição, derrotando seus famosos e desgastados concorrentes, é possível que sua resposta à indagação sobre o que achava da tragédia do museu se torne a frase do governo, trocando “Ordem e Progresso” pelo “O que passou, passou”, inclusive o atentado, e saia queimando os restos dos governos do Partido dos Trabalhadores.

Estou esperançoso. Afinal, sou um idoso que não me acostumei com nada, não conheço a verdade e preciso de sabedoria e um pouco de malandragem para sobreviver ao que virá.

Paulo Castelo Branco

Congresso em Foco

 




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