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Artigos • 29 out, 2024

De farol a retrovisor (Cristovam Buarque)


SEM OFERECER ALTERNATIVA AO ELEITOR, ESQUERDA SE ESGOTA.

Mais uma vez, o eleitor alerta as forças progressistas, votando em candidatos conservadores, inclusive da extrema direita.

As forças progressistas foram salvas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello devido a suspeitas de corrupção. O governo de Itamar Franco, especialmente no controle da inflação, permitiu eleger Fernando Henrique Cardoso, que consolidou imagem positiva dos democratas progressistas. O eleitor avançou para a esquerda, elegendo quatro governos do PT. Mas em nenhum momento com unidade progressista: o PT fez oposição ao PSDB, e o PSDB ao PT.

Essa divisão, aliada aos erros de gestão e ao envolvimento com corrupção, elegeu a extrema direita em 2018, menos por desejo conservador do que por antagonismo e cansaço com o discurso e comportamento da esquerda, especialmente o PT.

O eleitor deixou de desejar melhorar o Estado e passou a desejar acesso aos serviços privados. Prefere a direita porque lhe parece mais eficiente para administrar os mesmos programas da esquerda. Embora criado em 1995 em governo do PT no Distrito Federal, o Bolsa Escola, levado para o Brasil por FHC, e adotado por Lula como Bolsa Família, não é mais um programa de esquerda. Foi mantido por Bolsonaro como Auxílio Brasil.

Apesar de 26 anos no poder, 16 dos quais sob o PT, as esquerdas nunca apresentaram estratégia de reforma social para erradicar a pobreza, distribuir melhor a renda nacional, vacinar a política contra corrupção.

A esquerda não apresenta alternativas estruturais para eliminar o quadro de pobreza, distribuir renda, crescer a economia respeitando o meio ambiente, publicizar as estatais, implantar um sistema nacional de educação de base com equidade, organizar cidades com convivialidade e pacíficas.

Sem apontar rumo para o futuro e sem discurso para o eleitor atual, a esquerda se esgota, fica eleitoreira, sem se ajustar ao que pensa e deseja o eleitor. Deixa de ser farol e vira retrovisor, papel que deve caber com naturalidade à direita, cujo papel é conservar, não progredir.

Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação




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