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Artigos • 23 out, 2022

Domingo que vem acaba o ano


(por Elio Gaspari) – 

Afora a confusão, até agora tudo bem

Em janeiro, o senador Tasso Jereissati avisou: “As instituições precisarão ser fortes, trincar os dentes”. Trincados os dentes, chegou-se aos últimos dias da campanha eleitoral e as instituições mostraram-se fortes.

Jair Bolsonaro fez de tudo contra o Judiciário, tentou demonizar as urnas eletrônicas, estourou o teto de gastos, passou pelo Sete de Setembro e, no próximo domingo, colocará seu novo mandato nas mãos dos eleitores. Há quatro anos elegeu-se com seu companheiro de chapa criticando a existência de um 13º salário. Agora, o capitão está a um passo de oferecer elixires de vida eterna aos seus eleitores.

O Judiciário trincou os dentes e prevaleceu. Julgando-se onipotente, achou que podia acabar com as mentiras eletrônicas. Nada feito. Julgando-se onisciente, atropelou liberdades públicas e produziu decisões contraditórias. Para o tamanho das malfeitorias, jogou o jogo e até agora saiu inteiro. Prevaleceu contra o maior perigo: o golpismo.

Foram para o vinagre o liberalismo de Paulo Guedes e —até agora— os pruridos das vivandeiras que buscam extravagâncias do poder militar. Nunca na história das eleições presidenciais a escolha ficou entre dois candidatos tão diferentes como Lula e Bolsonaro. (Em 1994, Lula e Fernando Henrique Cardoso eram dessemelhantes, mas FHC não pode ser comparado ao capitão, quer pela plataforma, quer pelos modos ou biografia.)

Bolsonaro encarna uma inédita mobilização da direita como movimento de parte do andar de cima, com profundas raízes populares. A direita de 1964 era ilustrada e desmobilizadora. A de 2022 não é uma coisa nem a outra. Meses depois da deposição de João Goulart, aquela velha direita livrou-se das organizadoras das Marcha da Família e decapitou boa parte do patronato amigo com seu peleguismo chique.

Em 1974 a ditadura perdeu a eleição para o Senado do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. No primeiro turno de 2022, Bolsonaro perdeu na contagem nacional, porém prevaleceu nesses estados. Perdeu em Minas, onde o MDB venceu em 1974.

Na eleição de 2022 o Rio de Janeiro elegeu o general da reserva Eduardo Pazuello para a Câmara com a segunda maior votação do estado e São Paulo deixou José Serra numa suplência. Um está entre os piores ministros da Saúde da História. O outro está entre os melhores. Eleição tem disso.

É o caso de se relembrar uma piada de Millôr Fernandes. O sujeito pula do 20º andar de um edifício e, ao passar pelo 9º, comenta: “Até aqui, tudo bem”.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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