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Artigos • 06 fev, 2020

A Esquerda e os Evangélicos ( artigo)


Gerson Leite de Moraes* – Congresso em Foco

Chamou a atenção, na última semana, uma declaração do ex-presidente Lula comentando a necessidade do PT em se reaproximar do segmento evangélico. De igual modo, chama a atenção, também, as mais recentes pesquisas sobre o crescimento evangélico no Brasil, que mostram que este grupo religioso conseguiu ocupar um espaço importantíssimo no cenário nacional, seja na construção de uma narrativa pautada pelo conservadorismo nos costumes, seja na sua enorme capilaridade no campo da política.

Diferentemente da Igreja Católica, que apesar de diversa em si mesma segue uma orientação única que é emitida, seguida e obedecida (tudo isso em tese, porque na prática sabemos que uma coisa é a voz oficial, outra é o acolhimento desta) porque é emanada diretamente do Bispo de Roma, a chamada Igreja Evangélica não possui tal poder centralizado. Funcionando como uma espécie de federação acéfala, as igrejas evangélicas unem-se, em primeiro lugar, no Brasil, por serem anticatólicas. A ideia de uma Igreja Evangélica una funciona do ponto de vista midiático e mercadológico, mas na prática do dia a dia é um equívoco.

O crescimento dos evangélicos, principalmente do segmento pentecostal – lembrando que entre os evangélicos há os protestantes históricos também -, é um fenômeno típico do século XX, fato verificado em muitos países, principalmente na América e África, com reverberações também em alguns lugares da Ásia. Enquanto os pentecostais reviveram a força do cristianismo em alguns lugares do mundo, a Europa viu a secularização crescer de maneira galopante com muitas propriedades eclesiásticas se transformando somente em locais de visitação turística ou sendo vendidas para iniciativa privada.

Diante deste cenário, como a esquerda poderá se reaproximar dos evangélicos? Pode-se dizer que, não havendo um poder centralizado entre os evangélicos que os represente politicamente, o que de fato os une é uma identidade que provém de um determinado discurso, de uma determinada narrativa. Não era incomum nos governos do PT, a presença de evangélicos, o que mudou de lá para cá? A proximidade da esquerda com uma pauta progressista, principalmente com a agenda LGBT (casamentos homoafetivos, identidade de gênero, transexualidade, etc.) criou na mentalidade evangélica uma aversão ao programa da esquerda, pois isso foi recebido como um ataque frontal à célula mater da sociedade, que é a família. A Direita explorou isso muito bem, gerando um pavor no segmento religioso evangélico. Se o PT e a esquerda quiserem se reaproximar dos evangélicos, terão que fazer escolhas entre uma pauta progressista ou conservadora, ou, ainda, tentar criar pontes entre as duas, na expectativa de construir espaços de diálogo e convivência. A tarefa não é simples, mas é necessária e faz parte do jogo da política.

* Gerson Leite de Moraes é graduado em Teologia, fez mestrado em Filosofia, Doutorado em Ciências da Religião e é Prof. de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie.




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