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Artigos • 10 out, 2024

Esquerda paga o preço de não ter se renovado (Por Hubert Alquéres)


Lula e o PT ainda raciocinam como se vivêssemos no mundo fabril da sua época de sindicalistas

Lula fracassou a estratégia de Lula de fazer da eleição municipal a antessala da disputa presidencial de 2026.

Nada disso aconteceu. Sob todos os ângulos, a esquerda foi a grande derrotada na disputa municipal. O mapa político do Brasil pós primeiro turno acompanhou a tendência que vem desde 2016, inclinando-se para o centro e para a direita. O predomínio é de centro-direita, o grande vencedor do último domingo, embora também tenha se expandido a ala ideológica que orbita em torno de Bolsonaro. Isso se traduziu em números.

Os partidos mais conservadores ligados ao ex-presidente – PP, PL e Republicanos- elegeram 30% das prefeituras. Já os partidos do campo da esquerda – PT, PSOL, PSB, PDT, PC do B, mesmo com Guilherme Boulos no segundo turno – controlarão, no máximo, 13% das prefeituras do país. O PSD de Gilberto Kassab vai se afirmando como o grande partido municipalista, com uma fatia mais gorda de prefeituras: 16% do total.

E no cesto das prefeituras controladas pela esquerda está computado PSB de João Campos, prefeito reeleito de Recife com votação expressiva, que pouco tem a ver com a esquerda tradicional. Ele e Tabata Amaral estão mais para um centro-esquerda arejado e refratário à polarização.

Há um dado espantoso. Em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores elegeu no primeiro turno míseros três prefeitos, nos municípios de Lucianópolis, Matão e Santa Lúcia. Disputará o segundo turno em mais dois: Mauá e Diadema, no ABC, onde já controla suas prefeituras. No mais, toda a região metropolitana de São Paulo estará em mãos de aliados de Tarcísio de Freitas. O governador paulista foi o principal vitorioso no Estado, sendo decisivo para Ricardo Nunes (MDB) ser o mais votado na capital.

A eleição ainda não terminou. Para um balanço final é necessário o desfecho do segundo turno. Na capital paulista, o candidato da esquerda, o psolista Boulos, carrega enorme desvantagem. No primeiro turno, os votos dos três candidatos mais à direita – Nunes, Marçal e Marina Helena – chegaram a quase 60%. É quase impossível os votos de Marçal, que não foi para o segundo turno por um triz, migrar para o candidato de Lula.

Como cabo eleitoral, Bolsonaro colheu mais frutos do que Lula. Catapultou ainda as candidaturas de Bruno Engler em Belo Horizonte, Fred Rodrigues em Goiânia e de Cristina Graem, em Curitiba. O PL de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto levou nove candidatos a prefeito para o segundo turno, o dobro do que o PT disputará.

Houve um erro estratégico de Lula, claro, ao apostar no aprofundamento da polarização com Bolsonaro para conquistar casamatas, com vistas à disputa presidencial de 2026. Nem em São Paulo isto aconteceu, pois o grande cabo eleitoral foi o governador Tarcísio. A polarização, ao contrário da avaliação do presidente, deu sinais de arrefecimento. Mas há causas mais profundas também subestimadas pelo presidente e seu partido.

Esse é o paradoxo: enquanto a esquerda se desconectou da juventude, a extrema-direita se aproximou dela com garra. O vereador mais votado do Brasil foi um bolsonarista de 26 anos, Lucas Pavanato, de São Paulo. Fenômeno semelhante aconteceu na eleição de 2022, quando o deputado mais votado foi também um jovem de 26 anos, o mineiro e bolsonarista Nikolas Ferreira. Sintoma dos tempos atuais: em vez da estrela no peito, os jovens preferiram fazer o M nas urnas.

De lá para cá o problema só se agravou. As urnas revelaram a profunda distância da esquerda da sociedade, incapaz de entender os novos fenômenos e dialogar com amplos setores, como a enorme massa de trabalhadores em áreas sem vínculo empregatício, os evangélicos, os pequenos empreendedores, bem como com a aspiração da nova classe média e da juventude de prosperar.

Já a direita se conecta com tais setores. A votação em São Paulo, onde Marçal conquistou 28% dos votos, é expressão da capacidade da direita, mesmo o seu setor mais radical, de dialogar com a nova realidade, fruto da profunda revolução tecnológica.

E a esquerda, o que tem a dizer para esses setores? Quase nada. Daí, ao ser penalizada pelas urnas, pagou o preço de não ter se renovado. (Fonte – Site Metrópoles )

Hubert Alquéres é presidente da Academia Paulista de Educação.




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