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Artigos • 12 set, 2022

Eu sou ? … ou Eu Estou?


( por Heitor Freire) – Quando começamos a nos questionar, a buscar uma identificação, surge uma discussão interessante sobre quem realmente nós somos. O autoconhecimento é a conquista mais elevada e verdadeira a que pode aspirar um ser humano. É por meio dele que se dá a evolução natural que nos proporciona a oportunidade de clareza de ações, pois nos conecta com nós mesmos.

De um modo geral as pessoas procuram algo grandioso, algo espetacular e não enxergam o óbvio. É preciso ver o óbvio e nele descobrir as nossas raízes, usando o discernimento – o primeiro passo na evolução espiritual – para descobrir o sentido que se esconde por trás daquilo que nos parece tão simples. E para isso é necessário entender que a pressa, a preguiça e a pressão, associadas à arrogância e ao interesse, não nos levam a lugar nenhum, pelo contrário.

Quando começamos a trilhar o caminho do autoconhecimento, descobrimos a individualidade e aí percebemos que nada poderá nos atingir, pois quem se ofende é sempre a personalidade, e nunca a individualidade. Nesse contexto, a personalidade está mais para os conceitos junguianos de “ego” e “persona”, enquanto a individualidade aproxima-se do “self”, mais anímica, mais ligada ao espírito absoluto, mais sutil.

Tudo que dizem de mim – profissão, temperamento, título, currículo, posição social, classe, gênero, estado civil, endereço, nome, aparência, predicados – é aquilo que ESTOU. Tem muito de mim, mas não é necessária e eternamente meu Eu. Aquele que SOU, mais do que estou, é algo que tento descobrir e integrar. Conhecê-lo é uma das formas de me tornar um indivíduo, ou seja, sem integrá-lo não passo de uma metade incompleta, angustiada e neurótica. Individuar – tornar-se pessoa, deixar de confundir a persona-lidade com a individualidade – é um objetivo a ser buscado.

Tudo por causa [EAL1] da mania do cérebro em procurar padrões em tudo. Nós somos seres individuais, únicos, originais. Quando despertarmos para a nossa verdadeira identidade, daremos um salto de qualidade em nossa existência que vai nos levar à evolução.

Em seu “Livro de Ouro”, Saint Germain ensina a importância do Eu Sou e da ativação de sua força: “Quando você diz ‘Eu Sou’, sentindo profundamente, contata a fonte da vida eterna para que ela transcorra sem obstáculos ao longo do percurso”. Este é um ensinamento simples, que praticado constantemente nos confere a libertação. Muitas pessoas descartam de pronto essa afirmação por considerá-la muito simplista e assim perdem a oportunidade de alcançar a liberdade do ser: a individualidade da qual decorre a dignidade.

A dignidade humana é uma redundância. Porque a dignidade só pode ser humana. A dignidade é um atributo humano. É inerente ao ser humano. Decorre da consciência. É definida como respeito a si mesmo, amor próprio, brio, pundonor. Ou seja, todo ser humano é dotado desse preceito.

O conceito de dignidade ganhou sua formulação clássica por Immanuel Kant: “No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade.”

Está cada vez mais difícil julgarmos o que pode e o que não pode entrar em nossa vida. A quantidade de informação disponível sobre qualquer assunto, o ritmo acelerado de nossa rotina e a nebulosa relação entre o que é público e o que é privado fazem com que fiquemos dispersos e acabamos negligenciando nossa privacidade, um bem imaterial que deveria ser melhor preservado.

O turbilhão da vida moderna, que nos envolve de maneira invasiva, acabou eliminando, sem que percebêssemos, a privacidade de cada um. Basta ver o que acontece com a televisão, por exemplo.

Há um condicionamento em nosso comportamento, e por força do hábito, quando ligamos o aparelho, automaticamente subordinamos todos os nossos atos a obedecerem ao horário do jornal, da novela, do programa, relevando, muitas vezes, qualquer prioridade nossa.

Há, hoje em dia, tendência a uma exposição pública que implica renúncia a esse privilégio maravilhoso da privacidade. Todos querem ser celebridade. A fama virou virtude. Busca-se uma forma de identificação com o que está acontecendo, com a moda, sem que se perceba a tremenda inversão de valores, em que cada ato é pautado pelo  clamor do momento.

E isso representa prejuízo ou benefício?

Prejuízo, porque resulta exatamente na privação da individualidade. E no silêncio da individualidade que o ser humano pode crescer de verdade. É na individualidade que se manifesta a originalidade de cada um. E é precisamente aí que o EU SOU faz a diferença.

Heitor Rodrigues Freire (*) –




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