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Artigos • 28 dez, 2021

Há vida além da terceira via?


 (Cleber Lourenço) – A escaramuça petista para construção de uma chapa entre o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin deixa claro o viés centrista ou pelo menos de centro-esquerda do dirigente do PT, que, assim como em 2002, se esforça para fazer um aceno para a Faria Lima e o eleitorado mais à direita.

Isso implode o discurso macarthista alicerçado unicamente na negação a Jair Bolsonaro e Lula como se fossem dois extremos, com o ex-presidente petista capitaneando uma suposta extrema-esquerda que deixaria o país à beira do comunismo. Não deixa de ter um toque reciclado diretamente dos discursos do Bolsonaro de 2018 – fato curioso: todos os principais nomes da tal terceira via foram eleitores dele.

O que resta para a terceira via que até agora não fala sobre as necessidades da população, dialoga apenas com o mercado e não possui base social?

As manifestações do grupo pelo impeachment de Jair Bolsonaro mostraram que o grupo não consegue, pelo menos, gerar algum engajamento significativo.

E nem mesmo o governador paulista, João Doria, principal fiador da vacina contra a covid-19, usa esse mérito como ativo eleitoral e ainda deixou esse abismo ainda mais estridente quando cometeu a gafe no interior da Paraíba, onde perguntou: ‘Quem já foi para Dubai?’

A última pesquisa Ipespe mostrou que 40% dos brasileiros acreditam que os temas mais importantes do próximo presidente estão relacionados à pauta econômica.

Em segundo lugar estão a inflação e o custo de vida (15%); o desemprego (13%) também fica no top 5, mais precisamente em quarto lugar.
Faço questão de reproduzir aqui um trecho do artigo mais recente do brilhante Thomas Traumann:

“É impossível governar no Brasil sem falar para a Faria Lima, os Jardins, o Leblon e o Lago Sul. Mas ninguém ganha se não convencer o Largo da Batata, a Rocinha, Jardim Ângela e Cabrobó.”

E é esse o problema da terceira via, falta equilíbrio no diálogo. Algo que seja a ser irônico para um grupo que roga para si a imagem de um oásis de moderação.

O povo não liga

Infelizmente o grupo ainda busca outra forma de tenta renovar esse discurso. Dizem que essa é uma eleição muito pautada pelos “antis” (antibolsonarismo e petismo).

Dizer que o eleitorado médio (não-politizado) é guiado por essas militâncias é reducionista demais, as pessoas querem alguém que resolva os seus problemas e isso vai além das bolhas das redes sociais.

A mais recente pesquisa Quaest/Genial, publicada dia 9 de dezembro, mostrou que apenas 22% dos brasileiros se informam através das redes sociais e mais de 70% dos entrevistados não duvidam que as notícias sobre o aumento da pobreza sejam verdadeiras.

O que ninguém quer admitir é: vivemos uma crise de representatividade que começou ainda em 2014, se asseverou em 2018 e permanece até hoje.

Precisamos melhorar a oferta de políticos nas eleições e isso não será possível com a perniciosa “nova política”, mas com a redução dos partidos (uma discussão que comecei aqui) – o que é assunto para outro momento.

Para fechar esse bloco, cito o sempre preciso doutor em Antropologia Social pela UFRJ, Orlando Calheiros:

“Mais importante do que simplesmente dizer que as pessoas rejeitam esse ou aquele partido é compreender o motivo dessa rejeição. E entender de uma forma que não seja um simplório “eles são manipulados, não sabem votar, etc…”. Pois como fica essa “explicação” quando eles votam no seu candidato? É aquilo, só não sabe votar quem vota na oposição e tals.”

Falta de diálogo

As pesquisas de opinião, os discursos e as ações da terceira via colocam um brilho solar na seguinte constatação: o grupo está na contramão das preocupações e interesses da população.

Não significa que eles fazem oposição aos interesses da população, que defendam menos empregos ou coisas do tipo, mas que simplesmente estão abordando algo que não é interessante para o eleitor.

E o pior, não é só desinteressante! É equivocado! Lula sempre foi um socialdemocrata e o partido dos trabalhadores que começou na esquerda, ao longo dos anos, deslocou-se para a centro-esquerda. Os únicos extremistas no pleito de 2022 se chamam Jair Bolsonaro e Sergio Moro.

Ou seja, a tal polarização não existe, não da forma como eles defendem. Se há alguma polarização é entre os democratas e os antidemocráticos.

Nenhum dos nomes da terceira via consegue ter uma performance significativa, tampouco alcançar pelo menos metade das intenções de voto do segundo colocado nelas, Jair Bolsonaro.

Com Lula buscando um novo José de Alencar, a falácia do extremismo cai por terra, o que sobra para a terceira via?

Há vida além da terceira via?

Fonte – Congresso em foco 




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