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Artigos • 28 jan, 2025

Marina Colassanti, adeus


(Da FSP) –

Morre Marina Colasanti, autora que entendeu a alma de crianças e adultos, aos 87

Escritora, poeta e tradutora foi um dos rostos do livro infantil brasileiro e referência da produção nacional fora do país

Marina Colasanti não é só autora de poemas, narrativas curtas, contos de fadas, crônicas, histórias infantis, traduções, ensaios e reportagens. Seus livros para crianças e adultos são feitos da mesma matéria dos clássicos —deles, transbordam desejos, ódios, manias, paixões, medos e ambiguidades. Neles, está escrita a alma humana.

Agora, nesta terça-feira, sua obra ficou completa. Uma das escritoras brasileiras mais premiadas e nome respeitado mundialmente quando o assunto é literatura infantojuvenil, ela morreu aos 87 anos, em sua casa, no Rio de Janeiro.

Filha de italianos, Marina Colasanti nasceu em 1937, na África, mais especificamente em Asmara, capital da Eritreia. Seu pai, Manfredo Colasanti, trabalhava para a Confederação das Indústrias, órgão controlado pelo governo fascista, e tinha atuado nas guerras coloniais da região, dominada por Roma desde o século 19. Depois, mudaram-se para Trípoli, na Líbia. Até que a Segunda Guerra levou a família de volta à Itália.

O avanço dos conflitos obrigava os Colasanti a se deslocar constantemente. Sem muitos amigos nem brinquedos, quando ainda era pequena, Marina ganhou dos pais uma coleção de livros. Nas palavras da escritora, aquilo foi um Cavalo de Troia.

Recém-alfabetizada, logo devorou “Pinóquio”, contos dos irmãos Grimm e adaptações de obras como “Dom Quixote”, “Os Três Mosqueteiros” e “Odisseia”. Leu também sobre as viagens de Marco Polo e narrativas repletas de sereias, ilhas perdidas, cavaleiros, gigantes, demônios e mitologias do mundo todo.

Histórias que nunca mais saíram de sua cabeça. E que viajaram com ela até o Brasil, em mais uma das mudanças da família, dessa vez em 1948, devido ao colapso da Europa e da derrota de Mussolini.

No Rio de Janeiro, morou na mansão de sua tia-avó, a cantora lírica Gabriella Besanzoni, que era casada com o magnata Henrique Lage. Ali, onde atualmente é o parque Lage, viveu com o irmão, Arduíno, que mais tarde seria um dos precursores do surfe no Brasil. Nessa época, Marina começou a estudar pintura, a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes e a se especializar em gravura —atividade que nunca abandonou, tornando-se ilustradora de muitos de seus próprios livros.

Mas o caldo cultural e a mistura geopolítica, literária e artística acabaram se desviando das artes plásticas para desembocar no jornalismo. Rapidamente, tornou-se redatora, editora e cronista do Jornal do Brasil. Foi um pulo até a estreia literária, com “Eu Sozinha”, em 1968.

Publicado durante o endurecimento da ditadura militar no Brasil, o título é composto por crônicas autobiográficas que colocam a mulher e a solidão feminina no centro da narrativa. Como escreveu Millôr Fernandes na época, “Marina Colasanti reflete, em cada palavra deste seu livro, a complexidade de uma formação intelectual quase absurda”.

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