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Artigos • 02 jul, 2022

Notícia histórica da pecuária sul-mato-grossense


 

( Luiz Carlos Pais) -Há um século, assim que o coronel Pedro Celestino assumiu, pela segunda vez, a presidência do Mato Grosso, estava em curso uma discussão sobre a necessidade de modernizar a pecuária bovina no Estado, sobretudo, na região sulina, onde nasceria, décadas depois, o atual Mato Grosso do Sul. Naquele momento, uma questão crucial consistia em definir as melhores raças que poderia se adaptarem ao clima regional e às condições das pastagens naturais que estavam sendo substituídas por novas variedades de gramíneas. Foi nesse contexto que Campo Grande inicia um período de desenvolvimento que levaria o município a se tornar em polo econômico da região.

O desafio daquele tempo consistia em construir as bases de expansão da pecuária, buscando um equilíbrio saudável entre inovações tecnológicas e práticas tradicionais que foram sendo aprimoradas com o tempo. Razão pela qual para se fazer uma leitura histórica do tema é preciso delimitar uma questão pontual, sem perder de vista o seu contexto. Alguns aspectos dessa importante atividade econômica podem ser destacados no relatório elaborado pelo intendente-geral (prefeito) de Campo Grande, Arlindo de Andrade Gomes, do ano de 1922.

Campo Grande respirava um clima de entusiasmo e progresso, com a chegada constante de novos moradores, muitos imigrantes e brasileiros vindos de diferentes regiões do país, buscando as boas oportunidades oferecidas pelo comércio local. No referido documento, vários dados descrevem o progresso geral do município e de sua arrojada pecuária como principal fonte de riqueza. Naquele momento, o cenário promissor da atividade resultava de mais de meio de século de tradição, tomando como referência a fundação do arraial de Campo Grande, ocorrida em meados de 1875. Alguns dos criadores mais experientes já diziam que as antigas raças de gado pé-duro, pantaneiro e outras não podiam ser desprezadas porque tinha suas vantagens.

As práticas cultivadas pelas primeiras gerações de pecuaristas estavam sendo modernizadas e a atividade exigia novas técnicas de manejo, incluindo a redução da criação extensiva, a introdução de novas pastagens e o fornecimento regular do sal mineral para o equilíbrio nutricional do rebanho. Mas, o principal desafio daquele momento era a resistência oferecida, por parte de alguns pecuaristas, em aceitar a introdução das raças zebuínas. Desde o início da década de 1910, estava ocorrendo a substituição gradual das antigas raças, com a crescente aceitação do gado indiano. Essas mudanças ocorreram a partir da influência de pecuaristas do Triângulo Mineiro, que desde o início do século começaram a importar os primeiros lotes de gado da Índia.

Havia então o interesse crescente por parte dos novos pecuaristas em adquirir reprodutores zebuínos. Por outro lado, havia também uma propaganda contrária ao avanço da referida raça decorrente de experiências feitas na fazenda Capão Bonito, propriedade da Brazil Land and Cattle, empresa com sede nos Estados Unidos, cujas fazendas no município de Campo Grande totalizavam 158 mil hectares. Desde 1915, a referida empresa estava introduzindo rebanhos das raças Hereford e Shorthorn, com a ideia de adaptá-los ao clima da região. Reprodutores dessas raças foram importados da Argentina, mas os primeiros resultados obtidos foram negativos.

Foi nesse quadro que as raças zebuínas começaram a conquistar a preferência dos criadores tendo em vista a sua rusticidade, facilidade de adaptação ao clima, maior ganho de peso e carcaça. Por essas e outras razões, depois de um século, o Nelore e outras raças criadas a partir do Zebu ainda ocuparam posição de destaque na tradicional e fértil pecuária do Mato Grosso do Sul.

Luiz Carlos Pais é Professor Aposentado da UFMS




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