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Artigos • 04 fev, 2025

O estado subterrâneo da guerra ( Gaudêncio Torquato)



(Escritor, jornalista, professor titular, professor emérito da ECA-USP e consultor político) –

Não pensem que este escriba perdeu as estribeiras. Mas o mundo vive um estado de guerra. A afirmação leva em consideração não apenas as guerras que se travam na arena das mortes, mas também abriga as batalhas de bastidores, que se operam por meio de estratégias indiretas. Afinal, não interessa a Xi Jinping, a Putin ou a Trump destruir fisicamente seus adversários com armas que devastariam a vida no planeta.

Explico o que se entende por estratégia indireta, pinçando o pensamento de celebrados formuladores de guerra. O que eles têm a nos ensinar?

Vejamos.

Os conceitos começam com Sun Tzu, o general filósofo chinês, que fez um livro sobre a arte da guerra. Lembremos alguns de seus princípios:

  • Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e o esmague. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado.

Pensem, agora, em Xi Jinping e Trump. Xi preparou uma bela isca para atrair a atenção do irascível Trump. O DeepSeek deve ter irritado o carrancudo presidente norte-americano. O líder chinês fingiu certo medo ante a beligerância trumpiana nos primeiros dias da administração e o atacou em um ponto vulnerável, o da tecnologia. Usou estratégia indireta de guerra.

Volto aos antigos, focando, agora, em Miyamoto Musashi, um espadachim japonês na arte dos samurais, tendo liderado algumas guerras.

Extratos de seu pensamento:

Pense sempre em “cruzar o riacho” e cruzá-lo no ponto mais propício.

Cruzar o riacho significa atacar o ponto vulnerável do adversário e colocar-se em posição vantajosa.

Voltemos a pensar no raivoso Trump e no calmo Xi Jinping. O que fez este de surpreendente nos últimos dias? Cruzou o riacho no lugar mais propício para chegar ao outro lado, colocando-se no cume do mundo da tecnologia e fazendo destroços no Vale do Silício, nos Estados Unidos. O DeepSeek foi a bomba que permitiu a Xi Jinping gerar um trilhão de dólares de prejuízo aos magnatas da tecnologia norte-americana. Mais uma vez, temos aí uma estratégia indireta.

Entra, agora, em cena o terceiro estrategista, o cardeal Mazarino, que ingressou no serviço militar do papa, como capitão-tenente. Com seus dotes diplomáticos, ascendeu na carreira e foi convidado pelo cardeal Richelieu a ingressar no serviço de Luis XIII. Acabou sendo nomeado sucessor de Richelieu, depois da morte deste.

Pensava assim:

Em uma comunidade de interesses, o perigo começa quando um dos membros se torna muito poderoso.

Quando te preocupares em obter alguma coisa, que ninguém se aperceba de tua aspiração antes de a realizares.

Não procures resolver com a guerra ou um processo aquilo que podes resolver pacificamente.

Tal escopo mexe com Donald Trump e Xi Jinping? Mexe, sim. Donald estava se achando o rei da cocada preta, tornando-se muito poderoso, e se apresentando como o novo xerife mundial. “Vamos fazer-lhe uma surpresa”, pensou Xi Jinping. Cuidou para ninguém vazar o DeepSeek. E soltou uma bomba tecnológica que fez Donald Trump dar um murro na mesa do Salão Oval da Casa Branca, onde despacha.

Por último, um encontro com Karl von Clausewitz, famoso por escrever o livro de cabeceira de Adolfo Hitler, “Da Guerra”. Este filósofo era um soldado profissional, filho de oficial, neto de clérigo e teve papel fundamental nas campanhas de Moscou de 1812 e 1813. Ele endureceu o coração, vendo os fogos infernais do incêndio que destruiu Moscou, a maior catástrofe material das guerras napoleônicas.

Vejamos extratos de seu pensamento:

A guerra é um ato de violência com que se pretende obrigar o nosso oponente a obedecer à nossa vontade.

A destruição do inimigo é o fim natural do ato da guerra.

Somente batalhas grandes e generalizadas podem produzir grandes resultados.

A guerra é uma mera continuação, por outros meios, da política.

Atenção, agora estamos diante da estratégia direta, do confronto armado, dos canhões, das armas nucleares, da devastação de adversários. Isso é o que interessava a Adolf Hitler, mas não interessa a Vladimir Putin, a Xi Jinping aos líderes do mundo ocidental, com exceção, talvez, do presidente norte-americano, que sinaliza com sua cara fechada, apelo às armas nucleares. O mundo está em expectativa, aguardando a entrada em cena do belicoso Líder Supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

Existe nos subterrâneos das potências um amargo gosto de guerra!

Que tempos, hein?




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