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Artigos • 10 nov, 2024

Para onde vai o Brasil? ( Antônio Carlos de Medeiros)


O tempo político acelerou. Nem bem terminaram as eleições de 2024 e o país já mira as eleições de 2026. Não era para menos. O recado das urnas foi claro e contundente.

Só que para dar conta do recado é preciso cuidar de um pressuposto: ancorar as expectativas econômicas, políticas, institucionais e sociais. Desafio intrincado. Para o governo, o Congresso e o establishment.

É disto que estão cuidando as elites políticas neste momento. Com duas iniciativas simultâneas. Um pacote de corte e reestruturação de gastos públicos. E a costura de convergência para a sucessão na Câmara Federal e no Senado da República. São pressupostos para a ancoragem das expectativas.

Depois tem mais. No caminho para 2026, intuo que a porta da saída para a necessária estabilidade política e para a formação de maiorias de governo é a construção de uma “geringonça a brasileira”.

E assim vamos a 2026. O Brasil optou pelo Centro. Mas o Centro ainda não conseguiu criar amálgama capaz para impulsionar uma liderança nacional. Este amálgama terá que vir de alianças no espaço gravitacional entre a centro-direita e a centro-esquerda, que hoje parecem ser as posições majoritárias – para além dos extremos. O “caminho do meio”. Com a direita em processo de divisão.

O Brasil tem, hoje, apenas dois líderes de amplitude nacional. Lula e Bolsonaro. Não existem (ainda) líderes nacionais com capacidade de liderança (nacional) e a capacidade de se comunicar com o povo brasileiro e costurar uma agenda de futuro com políticas púbicas e entregas. Sim: entregas. A sociedade foi clara. Menos retórica e mais entregas.

Vem daí a centralidade de nova agenda de futuro e de políticas públicas. Quem vai liderar a agenda? As eleições presidenciais brasileiras, já dizia FHC, são fulanizadas. Não se coloca de pé uma agenda sem um líder nacional.

Com a chamada direita dividida, Bolsonaro terá mais dificuldade em liderar o processo para 2026, se permanecer inelegível até lá. Mas agora deverá se beneficiar dos efeitos do “fator Trump” na política brasileira. A conferir.

Não para fazer debate doutrinário. Mas para escolher prioridades de políticas públicas que contenham os traços essenciais do liberalismo social. Já é chover no molhado, mas não custa repisar o mantra: o mundo mudou, o Brasil mudou.

O espectro político é um continuum com vários matizes e com movimentações pendulares, espelhando a movimentação das clivagens e demandas sociais. Tanto o corte da “luta de classes”, quanto o corte das clivagens regionais, já não conseguem mais dar conta da miríade de clivagens na sociedade do conhecimento e das redes sociais.

Sociedade da modernidade líquida de Zygmunt Bauman? Pode ser, sim. Com a formação de consensos em permanente mutação; e com ciclos políticos menos duradouros.

Para concluir, registro duas indagações finais. Dúvidas socráticas.

A primeira: quem sabe o Brasil poderá ter não uma, mas duas, Frentes Amplas para 2026, em eleições, mais uma vez, de segundo turno? (Pode ser que as eleições de 2026 venham a ter, como as de 1989, várias candidaturas no primeiro turno).

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

FONTE – METROPOLES 




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