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Artigos • 18 mar, 2022

Uma ou duas Rússias


(por Ruy Castro) – 

O que comunas históricos achariam dessa Rússia que disputa os últimos hambúrgueres do McDonald’s?

As imagens chocaram o mundo: multidões tomando as lojas do McDonald’s em toda a Rússia, disputando os últimos hambúrgueres e sacos de batata frita antes do fechamento decretado pela rede em protesto contra a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. Os que conseguiam chegar aos balcões pediam dez ou 20 sanduíches para viagem. Um cidadão algemou-se à porta de uma unidade em Moscou, tendo de ser libertado à força pela polícia e levado pedalando o ar.

O choque se deve a que, por boa parte do século 20, a Rússia simbolizou a resistência aos prazeres fúteis do capitalismo. Não era bem a Rússia, como sabemos, mas a União Soviética, embora, para milhões, uma e outra fossem a mesma coisa. Dizia-se que os jovens russos podiam não ter a Coca-Cola, o cachorro quente e a sacanagem no banco de trás do carro emprestado pelo pai, mas não sentiam falta porque tinham escola, comida, emprego na fábrica e liberdade para idolatrar o camarada Stálin.

Eles teriam de se conformar. Essa mesma Rússia que não dispensa a mostarda e o ketchup também não pode ser confundida com a que invade um país, bombardeia maternidades, silencia seu próprio povo e está em franco processo de reestalinização comandado por um ex-meganha da KGB.

E, não por acaso, amigo de Jair Bolsonaro.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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