Campo Grande, 23/03/2025 10:01

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Campo Grande

Campo Grande • 05 mar, 2025

Dias após ser liberada, avenida de R$ 84 milhões já recebe remendos


Cerca de dois meses depois de ter sido liberada para o tráfego, a Avenida Wilson Paes de Barros, na região do aeroporto de Campo Grande e principal via de um projeto que consumiu R$ 84,6 milhões, apresenta sinais de deterioração e já está recebendo remendos.
Avenida Wilson Paes de Barros – (fonte Correio do Estado – por Nery Kaspari)

 

A maior parte desta nova avenida passa no meio de pastagens e plantações de soja numa região em que a maior parte das terras pertence aos pecuaristas Glaucos da Costamarques e José Carlos Bumlai, vizinho e amigo do presidente Luiz Inácio da Silva, respectivamente.

Na tarde desta segunda-feira (3), em meio ao feriadão de órgãos públicos, funcionários de uma empresa privada refaziam trecho do pavimento que estava se esfarelando. O defeito apareceu em um local em que a água ficava acumulada sobre a pista.

A maior parte da avenida é extremamente plana, o que dificulta o escoamento da água da chuva. Além disso, o lençol freático da região é raso. Mesmo assim, o asfalto foi instalado praticamente no mesmo nível do terreno.

Para evitar os alagamentos, o projeto previa 1,4 quilômetro dos chamados colchões drenantes, que são estruturas de pedra subterrânea que retém a água e impedem que suba para a superfície, danificado o pavimento.

Na região do bairro Nova Campo Grande, a água brota do lençol freático a um metro de profundidade, conforme informou a prefeitura em meados de 2022, quando foi licitada a obra.

Estavam programados 1.504 metros de colchões de pedra, 420 metros na Avenida Wilson Paes de Barros e 1.084 metros na Avenida General Carlos Alberto Mendonça, que é sequência da primeira e que tem características geográficas semelhantes.

FINA CAMADA
Nesta segunda-feira, os trechos do asfalto deteriorado eram removidos manualmente pelos operários, com o uso picaretas e enxadas, deixando à mostra a fina camada de aterro e de asfalto que foram colocadas sobre o solo alagadiço.

A pista do aeroporto, que é paralela à avenida, está sobre um aterro de pelo menos um metro de altura e rodeada por um sistema de drenagem com valas de pelo menos um metro de profundidade para afastar o risco de alagamentos e períodos de chuvas intensas.

A nova avenida liga a avenida Duque de Caxias aos fundos dos bairros Santa Emília e São Conrado. Outro trecho desta nova obra liga estes dois bairros à região do Polo Empresarial Oeste, na saída de Campo Grande para Corumbá.

ADICENTES
Com ciclovia e passeio público, a via já está sinalizada e liberada ao tráfego desde o fim do ano passado, embora ainda não conte com iluminação pública nem redutores de velocidade. Por conta disso, três pessoas já morreram na nova via.

Na noite de 17 de novembro, um casal morreu depois que o carro em que estava bateu em um poste da rede de energia. A suspeita é de que o acidente tenha ocorrido porque o condutor desviou bruscamente de um monte de terra no meio da pista, que ainda não estava liberada.

Outra morte aconteceu no último sábado (1), quando um motociclista em alta velocidade bateu num caminhão que fazia uma conversão para entrar no bairro Nova Campo Grande.

Construída praticamente toda com  recursos federais, a maior obra dos quase três anos de gestão da bolsonarista Adriane Lopes e que já começou a se esfarelar, ficou a cargo da empreiteira capixaba Engevil, embora parte da pista tenha sido feita por outra empreiteira, a Equipe Engenharia, de Mato Grosso do Sul.

Por conta dos repasses federais, as obras na região não sofreram interrupção, ao contrário de praticamente todas as outras em Campo Grande no ano passado.

BENEFICIADOS ILUSTRES

Mas o curioso é que estes investimentos levaram asfalto para uma série de propriedades rurais de Glaucos da Costamarques e José Carlos Bumlai, além de outros três proprietários da região. O primeiro é vizinho e o segundo é amigo do presidente Lula.

Durante a operação Lava Jato, em 2015, o pecuarista Glaucos, apareceu amplamente na mídia nacional, apontado como sendo “laranja” de Lula,  por ser vizinho de porta de Luiz Inácio. À época, Lula morava no apartamento 122 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo.

Ele também ocupava o apartamento de número 121, como uma espécie de depósito, embora não aparecesse em seu nome. Os procuradores do Ministério Público Federal concluíram que ele teria recebido o imóvel como propina paga pela Odebrecht.

José Carlos Bumlai, que por sua vez, era amigo pessoal de Lula e tinha até livre acesso ao Palácio do Planalto. Bumlai chegou a ser preso e condenado a quase dez anos de prisão pelo então juiz Sérgio Moro.

O pecuarista Glaucos tem em torno de 180 hectares que ficam às margens desta nova Avenida, além de uma outra propriedade na região do Polo Industrial Oeste que também fica próximo ao novo asfalto.

José Carlos Bumlai, por sua vez,  tem propriedade na região e também está sendo indiretamente beneficiado pela obra, que está praticamente pronta, faltando somente a conclusão de uma ponte sobre o Córrego Imbirussu.

Esta chácara, que tem em torno de 80 hectares, não está às margens da nova avenida. Porém, a partir do momento em que chegarem as redes de água e energia, acompanhados dos loteamentos, as terras todas passarão a ter outro patamar de preço.

A justificativa da administração municipal para fazer o megainvestimento no meio de lavouras e pastagens é de que se trata de implantação de vias estruturantes para levar a urbanização àquela região da cidade.




Deixe seu comentário