Campo Grande, 13/01/2025 19:11

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Política

Política • 09 jan, 2025

O que significa o 8 de janeiro para a extrema direita, dois anos depois?


por Wilson Gomes, na FSP) –

Grave violação das instituições democráticas dividiu grupo político entre críticas táticas e justificativas ideológicas

Oito de janeiro. A data desta coluna se impõe como tema e como memória, especialmente após os relatórios da Polícia Federal sobre a “trama golpista” da extrema direita. Não era, como supomos em 2023, o plano “A” do golpe —este havia sido previsto para dezembro de 2022—, mas um plano de contingência, a última tentativa dos conspiradores de fazer o Alto Comando das Forças Armadas ignorar sua avaliação de que as circunstâncias eram desfavoráveis.

Nos últimos dois anos, o governo, o campo político democrático, a imprensa e a esquerda adotaram concepção bastante homogênea acerca daqueles eventos.

Desde os primeiros “vivos”, o telejornalismo tratou o episódio como uma tentativa de golpe de Estado, sem ambiguidades. Assim também se comportaram o governo e o Judiciário, que agiram rapidamente para debelar o ataque, evitar que suas consequências se alastrassem e punir os envolvidos. Tentativa de “abolição violenta do Estado de Direito” foi o selo definitivo que fechou a interpretação.

Pelo menos para o campo democrático e para as autoridades e instituições que tinham a obrigação de defender a democracia.

Mas e os envolvidos? Como os bolsonaristas elaboraram esses eventos e as suas consequências?

Minha hipótese, decorrente da observação sistemática dos grupos bolsonaristas online, é que o bolsonarismo, apesar das diferenças internas, nunca assumiu uma condenação clara e uniforme sobre os eventos do 8 de janeiro. Enquanto a sociedade brasileira, em geral, tende a ver os atos como uma grave violação das instituições democráticas, a extrema direita os enxerga de maneira ambígua, dividida entre críticas táticas e justificativas ideológicas. O que emerge é uma constelação de discursos e pontos de vista que se alternam entre a autocrítica estratégica, a vitimização e a negação de responsabilidade.

Em muitos casos, os atos são vistos como “burrice estratégica”, um “gol contra” que deu aos adversários a oportunidade de perseguir a direita e reforçar a sua posição de poder. Essa postura tenta separar o objetivo, considerado legítimo —contestar o governo e as instituições—, dos meios, esses sim, desastrados.

Os argumentos predominantes nesses ambientes são variados, mas um dos mais recorrentes é o da “armadilha orquestrada pelo governo”. Os atos não teriam sido genuínos ou espontâneos, mas parte de uma trama extremamente elaborada para desestabilizar a direita, prender simpatizantes e consolidar o poder do “desgoverno” atual.

Termos como “armadilha”, “infiltrados” e “conspiração” são amplamente usados para transferir a culpa aos outros. Essa versão permite que a extrema direita se mantenha em uma posição de vítima, reforçando a ideia geral de perseguição política.

Outra narrativa comum é a de que os manifestantes, muitas vezes descritos como “patriotas” ou “inocentes úteis”, foram injustamente presos e perseguidos, com algumas versões investindo no drama humano dos participantes ao mencionar idosos, cadeirantes ou mães com crianças. A vitimização é uma estratégia central: os envolvidos são vistos como mártires de um sistema opressor, apanhados em um protesto legítimo que foi manipulado e draconiamente reprimido.

No entanto, essas posições não são homogêneas. Alguns setores, mais pragmáticos, reconhecem os eventos como um erro estratégico que enfraqueceu a direita e forneceu munição para os seus adversários políticos.

Continue lendo 




Deixe seu comentário