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Política • 11 nov, 2020

Vitória de Biden terá efeito positivo para agro brasileiro, avalia Xico Graziano


Estados Unidos voltarão à OMC – Também ao Acordo do Clima – Brasil tende a ganhar com isso – Democrata acenou com US$ 20 bi

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden. Conforme tradição, o democrata deve assumir a Casa Branca em 20 de janeiro de 2021Twitter Biden (via Fotos Públicas)

Qual o impacto da eleição de Joe Biden sobre as políticas agrícola e ambiental do Brasil? Minha resposta: terá efeito positivo. Mas dará trabalho ao governo brasileiro.

Vou destacar as 3 questões mais importantes nessa análise, relacionada ao agronegócio nacional:

  1. Biden recolocará os EUA no contexto da Organização Mundial do Comércio (OMC), revendo o rompimento diplomático efetuado por Trump. Certamente haverá, por lá, um amainamento das tensões com a China, e a Ásia em geral. Num primeiro momento isso poderá significar perda de mercado para o Brasil, que se aproveitou da encrenca entre China e EUA para ampliar suas vendas de soja e carnes. No médio prazo, porém, a garantia de normas internacionais e o funcionamento dos mecanismos de solução de controvérsias, ferramentas típicas da OMC, oferecem maiores garantias ao agronegócio nacional que depender dos arroubos do ex-líder norte-americano.
  2. Biden reforçará a presença dos EUA nos termos do Acordo do Clima, promovido pela ONU (Paris, 2015), abandonado por Trump. Significa que a agenda das energias limpas, renováveis, ganhará impulso. Isso favorecerá o Brasil, que se destaca na produção de biocombustíveis (etanol e biodiesel), da bioeletricidade (bagaço de cana), da hidroeletricidade e caminha a passos largos na energia eólica e solar. Economia de baixo carbono é tudo de bom para o agro nacional, graças, ademais, à capacidade dos sistemas produtivos integrados sequestrarem Carbono da atmosfera, via processo da fotossíntese. Florestas plantadas também ganham nesse jogo ambiental. O agro nacional não teme a contabilidade de Carbono.
  3. Biden afirmou na reta final da campanha que poderia liderar uma ação global em defesa da Amazônia. Acenou que US$ 20 bilhões ajudariam o Brasil a reforçar seus mecanismos de defesa da icônica floresta. Embora alguns brucutus enxerguem nisso uma afronta à soberania nacional, pode-se vislumbrar uma oportuna cooperação financeira e estratégica. O agronegócio nacional não precisa se expandir sobre o bioma da Amazônia para cumprir sua missão de produzir soja e carne bovina para o mundo. Lutar contra o desmatamento ilegal e criminoso da Amazônia é tarefa urgente do agronegócio nacional. Se a Europa e, agora, os EUA querem ajudar nesse encargo, sem problema nenhum. Haverá um alívio dos mercados mais exigentes com relação às nossas boas práticas agropecuárias. Barreiras comerciais que se erguiam mundo afora poderão se esfarelar.

Tais questões afetam, obviamente, a política do governo brasileiro voltada ao agronegócio e ao meio ambiente. Na defesa da Amazônia estarão todas as atenções mundiais. Rumos terão que ser revistos, sob pena de isolamento total. A derrota de Trump, notoriamente, deixou Bolsonaro com a brocha na mão.

Haverá tensões dentro do governo. O vice Gal Mourão verá seu prestígio internacional aumentar. O ministro de Relações Exteriores perderá posições. A ministra da Agricultura será fortalecida. O ministro do Meio Ambiente estará pressionado. Será fatal que o entendimento vença a beligerância dentro das hostes governamentais.

Haverá divergências também dentro do agro. Lideranças do ruralismo tradicional, mais alinhadas à Jair Bolsonaro, serão confrontadas com a posição de empresários do agro moderno e tecnológico. Chegou a hora da morte para a velha agricultura, latifundiária e predatória. O debate será necessário e salutar. Sustentabilidade entrará definitivamente na agenda do campo brasileiro.

Resumo: a vitória de Biden nos EUA será a vitória da visão agroambiental no Brasil.

Poder 360




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