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Artigos • 13 nov, 2024

A nova direita não está de passagem


(por Wilson Gomes, na FSP) –

O eleitor da extrema direita está mesmo votando para liquidar a democracia?

Na semana passada, caiu enfim a ficha sobre o verdadeiro significado de 2016, ano em que um maluco de cabelo laranja, desbocado, politicamente incorreto e radical de direita venceu a eleição presidencial na maior democracia das Américas.

Esse evento foi crucial para que, dois anos depois, outro candidato igualmente esquisito, desbocado e direitista radical triunfasse na segunda maior democracia do continente. Foi um choque que, por anos, alimentou a convicção otimista de que, dado que esse fenômeno parecia incompatível com o nível de civilidade e cultura democrática progressista arduamente conquistado após tantos desafios no século 20, só poderia ser uma exceção trágica —um desvario do qual os eleitores se recuperariam, assim que caíssem em si.

Agora, porém, surge a prova incontestável de que estávamos enganados. Em três eleições presidenciais consecutivas, os americanos votaram divididos, com metade dos eleitores escolhendo reiteradamente essa proposta política que nos causa perplexidade. Alguém duvida de que o mesmo padrão se repetirá no Brasil pela terceira vez, embora ainda não saibamos qual lado conseguirá os 3% a mais que definirão a vitória? Já havia cantado essa pedra diante da eleição de Milei, agora temos as certidões: a extrema direita veio para ficar.

Diante disso, vale examinar o que tanto nos incomoda na posição política que está se tornando hegemônica em nossos países. É fácil recorrermos à ideia de que a democracia está em risco quando o governo cai nas mãos de pessoas que parecem ignorar direitos e liberdades fundamentais para os progressistas —direitos humanos e civis, liberdades sexuais e artísticas, proteções para minorias e para o meio ambiente, além do valor da tolerância — enquanto priorizam outras liberdades e outros direitos.

Quando o poder é exercido por líderes que demonstram pouco ou nenhum escrúpulo republicano ao tentar passar por cima de instituições ou até mesmo dos resultados eleitorais, quando estes lhes parecem obstáculos aos próprios apetites. Certo, mas esse é apenas um aspecto a considerar. Aparentemente, a maioria dos eleitores não tem votado nesses candidatos para destruir a democracia, eliminar minorias, fechar o Congresso e o Judiciário ou violar direitos e liberdades.

Será que alguém realmente acredita que metade dos americanos e dos brasileiros é efetivamente fascista, embora em quase dez anos desse ciclo de poder não tenhamos um único movimento fascista nas ruas? Pensando friamente, dá para crer na teoria de que os eleitores dessa nova direita sejam irrecuperáveis para a democracia, um “cesto de deploráveis”, republicanamente imprestáveis?

A questão é mais complexa: é verdade que há apoiadores de ditaduras nesse grupo, mas há também muitos que não veem a democracia ameaçada, não a consideram prioridade ou nem sequer entendem o que significa dizer que a democracia está à beira do abismo por causa do seu voto.

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