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Artigos • 03 set, 2021

A terceira via e as maiorias silenciosas


( por Dante Filho) – Estamos em setembro de 2021 e parece haver uma opinião majoritária entre políticos e especialistas de que a consolidação de uma terceira via nas eleições do próximo ano tende ao fracasso.

Pesquisas sucessivas apontam que a polarização entre Lula e Bolsonaro petrificou-se, mesmo porque interessa a ambos cultivar este antagonismo, fomentando uma crença de que hoje somente estas duas candidaturas formatam um consenso no inconsciente coletivo, representando o pensamento médio do brasileiro.

Certamente, o desenho de cenário sobre como os fatos se sucederão daqui pra frente indica que estamos fadados a uma inescapável decisão no futuro. Muitos comentam que o próximo 7 de setembro vai estabelecer numa linha divisória que determinará os caminhos sentimentais que vamos percorrer até o dia da eleição, em 2022.

Acredito que, depois do glorioso Dia da Pátria, o campo das especulações estará em aberto. Vejo que a imprensa – que devia ser a bússola pela qual nossa orientação estaria relativamente segura – foi engolfada pelos males do tempo, perdendo a capacidade de servir de guia para refletirmos sobre a realidade imediata.

A nós, jornalistas e curiosos amadores, resta buscar as fontes primárias, conversar diretamente com as pessoas nas ruas, perscrutar comentários aqui e ali, ouvir especialistas, políticos, enfim, ir acrescentando dados empíricos para filtrar elementos imaginários que consubstanciem uma opinião relativamente acertada dos acontecimentos.

Tempos atrás, lendo um ensaio do livro primeiro de Montaigne, ele observou que pessoas simples, pouco instruídas formalmente, são as que dão testemunhos mais verdadeiros sobre as coisas da vida, pois apesar de as “pessoas finas observarem muito mais cuidadosamente [os fatos] elas glosam suas opiniões (…) para fazerem valer sua interpretação e torná-las convincentes”.

Na prática, sou inclinado a concordar, embora aceite o fato de que a pandemia restringiu totalmente o nosso ir e vir para fazer contatos com as pessoas, dificultando a compreensão experimental do fenômeno político.

Além disso, percebo um refluxo de manifestações abertas de preferência eleitoral, talvez por conta da agressividade dos grupos polarizados.

Claro que quem já escolheu Lula ou Bolsonaro tem uma situação mais confortável. Eles podem ir à feira virtual tentando convencer o eleitorado a escolher seu candidato, ou, no caso do Lulismo, impor uma definição na base do (falso) dualismo entre democracia versus autoritarismo.

No momento, os chamados “isentões” são atacados em duas frentes. A primeira, a de não encontrar na disputa um candidato fora do esquema do “mainstream”; e a segunda, a de serem constrangidos a ficar entre os dois pólos, tendo que fazer uma opção forçada por conta de uma estratégia pesada nas redes sociais que envolvem diversas camadas de formadores de opiniões.

Olhando do alto os índices de várias pesquisas, com suas variações no tempo e cruzando com os fatos políticos cotidianos, percebe-se que as maiorias silenciosas ainda não se definiram, mesmo porque todos os nomes não estão postos oficialmente, configurando assim o que, afinal, estará impresso na cédula e quais campanhas ganharão as ruas, com quais características.

Só com esta fervura (mídia, cobertura, debates etc) saberemos se existe viabilidade de surgimento de uma terceira via. Em minha opinião, é possível. Na verdade, em política tudo pode acontecer. Coloco as barbas de molho. E espero.

PS- Um exemplo ilustrativo: há tempos venho acompanhando as eleições na Alemanha. Sei que não há parâmetro de comparação com o Brasil, mas há três meses o Partido Verde era imbatível. O Centro e a Direita viviam o ocaso a despeito da popularidade de Angela Merkel (que está deixando a vida política). A última pesquisa, porém, mostrou o PV caindo – e em terceiro lugar. O que aconteceu? A maioria da sociedade concluiu que a proposta econômica dos verdes era irrealista, para não dizer outra coisa.




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