Campo Grande, 29/04/2024 08:09

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Artigos

Artigos • 26 abr, 2020

Coronavírus nos fará pagar a conta da desigualdade social do Brasi


( Drauzio Varella )

É a primeira vez que a doença se dissemina num país continental, com tantas diferenças quanto o nosso

Enquanto o coronavírus se espalhava pela China, o mundo avaliou mal a gravidade da epidemia. Hoje, sabemos que os números divulgados pelos chineses subestimaram a magnitude do problema.

Há uma semana, Peter Doherty, que recebeu o Nobel de Medicina em 1996 por desvendar os mecanismos imunológicos na defesa contra os vírus, declarou ao jornalista Álvaro Pereira Júnior, no Fantástico, ter sido muito otimista no início da epidemia chinesa.

Eu me recrimino por ter compartilhado desse otimismo. Só fomos entender as dimensões da pandemia em meados de fevereiro, quando as UTIs dos hospitais da Itália ficaram abarrotadas de doentes com insuficiência respiratória.

O mundo estava tão despreparado que houve uma passeata com 200 mil pessoas pelas ruas de Madri, no mesmo dia em que os italianos decretavam o isolamento social.

Salvo raras exceções, o restante da Europa desenvolvida demorou a entender o alcance e as consequências da epidemia. Poupados por algumas semanas, os Estados Unidos não agiram melhor. O país mais rico do mundo tem mais mortes do que os outros porque foi surpreendido sem máscaras cirúrgicas, luvas e ventiladores mecânicos nem sequer para as necessidades básicas. Nova York assiste ao drama dos hospitais lotados, com caminhões frigoríficos estacionados à porta.

E o Brasil? Não sabemos exatamente, porque a experiência alheia nos é de pouca valia. É a primeira vez que esse coronavírus se dissemina num país continental, com tantas desigualdades sociais e regionais quanto o nosso.

Quando analiso a evolução da epidemia brasileira, no entanto, não consigo deixar de ser pessimista. Sem testar todos os doentes, dá para confiar nos números oficiais de infectados e mortos? Na verdade, estamos enfrentando no escuro uma tragédia de dimensões imprevisíveis.

Duas semanas atrás, alguém imaginava que Manaus seria a primeira cidade em colapso? Lá, as UTIs estão lotadas, faltam respiradores, equipamentos de proteção individual, médicos, fisioterapeutas e enfermagem com experiência em terapia intensiva. Os pacientes perambulam por unidades de saúde e prontos-socorros sem possibilidade de atendê-los, os enterros acontecem em valas coletivas.

 

Continue lendo 




Deixe seu comentário