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Artigos • 10 abr, 2025

Cuidado com os adultos


por Célio Heitor Guimarães –

Rubem Alves, o meu filósofo, educador e contador de histórias favorito, está com títulos novos na praça. São, pelo menos, quatro – “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, “Perguntaram-me se acredito em Deus”, “Pimentas” e “A grande arte de ser feliz” –, todos pelo selo Paidós (que significa criança, em grego). A editora foi fundada em 1945, em Buenos Aires, especializada em livros de psicologia, humanidade e ciências sociais, e, em 2003, passou a fazer parte do Grupo Planeta.

As publicações são reedições de antigos livros de Rubem, agora coordenadas pelo Instituto Rubem Alves, com nova roupagem e novos títulos, destinadas a manter acesa a sabedoria do autor e apresentá-la às novas gerações de leitores.

Em “A grande arte de ser feliz”, Rubem relembra um segredo, que só pode ser revelado em uma conversa entre avô e neto (ou neta), sem a presença dos pais: “Os adultos são uns tolos. É preciso que você fique longe deles”.

Rubem aprendeu que os pais vão fazer tudo para que os filhos passem numa máquina Xerox chamada escola. Diz que é preciso resistir. E lança mão do exemplo do Pequeno Príncipe, criado pelo escritor Antoine de Saint-Exupéry.

O Pequeno Príncipe mora num minúsculo asteroide, cuida de uma rosa, tem um carneirinho e morre de rir quando se lembra dos adultos. “Ele percebeu aquilo que só nós, crianças, percebemos: que eles, os adultos, são todos doidos”. E repete o que lhe foi revelado por Sua Alteza: “Se a gente contar para um adulto que a casa da gente é branca, de janelas vermelhas, flores no jardim e pássaros no telhado, ele fica olhando, cara espantada, como se fôssemos de um outro mundo. Agora, se a gente disser que mora numa casa que custou R$ 300.000,00, ele sorri e diz: ‘Mas que linda casa!’. E sentencia: “Os adultos pensam que o maior e o mais caro é o melhor”.

Segundo Rubem Alves, os adultos acham que a alegria e os deuses vêm empacotados em embrulhos grandes. Quando falam em Deus, pensam em uma grande coisa, do tamanho do universo. E aí “ficam falando em coisas que o pensamento não entende, como tempo de bilhões de anos e distâncias de anos-luz”.

Mal sabem eles, os adultos – pontua Rubem –, que a alegria, o divino e o maravilhoso estão ali pertinho, ao alcance das mãos e dos olhos, como uma gota de orvalho, uma amora roxa, um raio de sol em uma teia de aranha, uma joaninha, uma bola de gude, “coisas pequenas, sem preço”.

Confessa que dessas coisas só ficou sabendo direito depois que ficou adulto. Até sabia quando era menino. Quando ficou adulto e sério, esqueceu. Ao ficar velho, reaprende-as com grande alegria. E, por isso, pode ensiná-las aos menores.

Em outra crônica, repetindo Adélia Prado, Rubem pede a Deus que o cure de ser grande. Lembra, com saudade, coisas de quando era pequeno. O fogo do fogão de lenha, por exemplo. “Lá fora estava frio, escuro e triste. Na cozinha estava quentinho, vermelho e aconchegante. No fogo, fervia a sopa”. E garante que comida melhor que sopa não há. Nada de camarão, picanha ou lasanha. Por ele, escolheria a sopa para comer pelo resto da vida: “é comida de pobre, que pode ser feita com as sobras”.

Está aí mais uma afinidade minha com o saudoso Rubem. Como ele, eu também adoro sopa. Até mesmo no verão. De feijão, então, é de empanturrar, que, como sabe o leitor, quer dizer, fartar-se, encher a pança.

Grande Rubem Alves! Saudade de você.




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