Campo Grande, 13/12/2024 02:45

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Artigos

Artigos • 20 nov, 2024

O começo de uma nova história (por Roberto Brant)


A única coisa certa é que o Brasil não tem nada a ganhar e tem tudo a perder com estes novos tempos

Quando o muro de Berlim foi demolido praticamente à mão por multidões desarmadas, sem qualquer reação dos poderosos exércitos do Pacto de Varsóvia, em novembro de 1989, disseminou-se a crença de que a democracia liberal havia triunfado para sempre. Pouco tempo depois o cientista político Francis Fukuyama publicou um ensaio anunciando o fim da história, querendo naturalmente dizer que estavam encerrados os grandes conflitos políticos e que doravante a história fluiria sem perturbações ou sobressaltos.

Nos pouco mais de 30 anos transcorridos desde então, o mundo mudou muito, quase sempre para melhor. A globalização permitiu que a industrialização e o progresso econômico se espalhassem por grandes extensões do mundo, retirando centenas de milhões de pessoas da pobreza e causando uma redução generalizada dos preços dos bens industriais, graças aos aumentos da produtividade e ao comércio internacional.

Mesmo quem não alimenta o pessimismo de que tudo na vida é um jogo de soma zero, em que o ganho de alguns é necessariamente a perda de outros, precisa reconhecer que a globalização trouxe ganhos e perdas assimétricas, entre países e entre pessoas. Na Europa, mas principalmente nos Estados Unidos, a descentralização da produção industrial para países com oferta ilimitada de trabalho e baixos salários, significou o desaparecimento das indústrias tradicionais e o fim dos bons empregos para uma classe trabalhadora acostumada à vida de classe média. A especialização dos países ricos em alta tecnologia e serviços financeiros, criou uma elite urbana limitada e aprofundou a diferença entre ricos e pobres.

No plano da política, os partidos do campo progressista abandonaram o seu tradicional discurso de luta de classes e mudaram o foco para as políticas identitárias, com ênfase em raça, gênero e orientação sexual, deixando de lado as pautas de interesse da população trabalhadora, conservadora nos costumes, nostálgica do passado e excluída das oportunidades da nova economia. A consequência foi a migração destas grandes massas de perdedores para os partidos da chamada direita onde, ao encontrar as populações rurais tradicionais destes partidos, conseguiram formar uma nova maioria, cujo projeto é opor-se à ordem globalizante, que parece ter sequestrado o seu futuro.

A vitória de Trump não é o fim do mundo, nem um novo fim da história. É simplesmente o começo de uma nova ordem que, por imprevidência, nunca imaginamos. Como tudo na vida, vai nascer, evoluir e depois ser substituída, embora não saibamos quando.

A única coisa certa é que o Brasil não tem nada a ganhar e tem tudo a perder com estes novos tempos.
Fonte – Metropoles



Deixe seu comentário