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Artigos • 13 maio, 2025

O primeiro retrato na parede


(Gaudêncio Torquato) –

A pré-campanha eleitoral para o pleito presidencial de 2026 já começou, mesmo que não se saiba quais serão os contendores. Os mais prováveis são Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro, o primeiro representando a esquerda e o segundo, a direita.

Primeira questão: se não forem candidatos, quem seriam os seus herdeiros? Os nomes mais citados são: Fernando Haddad, Rui Costa e Camilo Santana, pela via da esquerda; Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, pela via de centro-esquerda; e Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Jr., pela via da direita.

Este escriba se propõe a analisar a viabilidade de cada um, tendo como hipótese a continuidade da polarização que divide, hoje, o país em duas bandas. Nesse caso, a contenda seria entre o lulopetismo e a oposição. Comecemos com os dois principais protagonistas.

Lula – Fatores desfavoráveis

• Corrupção – Será a temática central da campanha. O roubo dos aposentados e pensionistas do INSS, considerado o maior escândalo da história do Brasil, puxa para o governo Lula a pecha de governo corrupto, marca que vem se expandindo desde a Operação Lava Jato, na era Dilma (entre os anos 1914 e 1918).
• Inflação – Analistas financeiros enxergam aumento da inflação nos próximos meses, o que significa corrosão do poder de compra dos consumidores. A expectativa do mercado para a inflação anual é de 5,53%. A Selic bateu o teto de 14,75% ao ano, a maior taxa desde 2006. Se os eleitores forem às urnas de bolso vazio, Lula arcará com as consequências.
• União da direita e desunião da esquerda – A direita se mantém unida e deverá entrar na campanha eleitoral de 2026 sem grandes rachaduras em sua base. Já a esquerda está esgarçada. O PDT da Câmara deixou o ministério de Lula, depois da saída do ministro Carlos Lupi; o PDT do Senado continua a apoiar o Governo. As divergências na área da esquerda tendem a aumentar.
• Imagem negativa – A imagem do governo Lula 3 ganha a pior taxa de avaliação em toda a história dos governos petistas. A tendência é de piorar.
• Fadiga de material e cansaço – O Lula de ontem é o mesmo Lula de hoje. O governo não tem marca. O eleitorado está cansado de ver e ouvir as mesmas coisas. Lula padece do fenômeno “fadiga de material”. Mesmo sendo o ícone da esquerda, o presidente terá muitas dificuldades para aumentar o seu bornal de votos.

Bolsonaro – Fatores desfavoráveis

• Inelegibilidade – A inelegibilidade do ex-presidente da República, decidida pelo TSE, proíbe que ex-capitão dispute pleitos eleitorais, por oito anos, contados a partir das Eleições 2022. A Câmara debate a anistia para os baderneiros do 8 de janeiro de 2023. Se for aprovada, não passa pelo crivo do STF.
• Saúde – A 7ª cirurgia de Bolsonaro deu o alerta. A condição de saúde do ex-presidente poderá inviabilizar sua candidatura.
• Economia – Com a economia garantindo o bolso dos consumidores, controle da inflação, punição severa aos ladrões dos aposentados e pensionistas do INSS, Bolsonaro verá diminuída sua chance de vitória. Lula, ao contrário, aumentará as chances.

Se Lula e Bolsonaro não forem candidatos, quem seriam seus substitutos? Por enquanto, estes são os mais referenciados:

• Fernando Haddad (PT), de São Paulo, ministro da Fazenda do governo Lula. Apontado como o mais honesto e, também, o mais bem avaliado no quesito “visão”, em pesquisa feita pelo Instituto AtlasIntel. Calcanhar-de-Aquiles: a gestão da economia. O ministro dá sinais de que pretende disputar o Senado por São Paulo.

• Camilo Santana (PT), do Ceará, ministro da Educação. Ponto negativo: desconhecido. Ponto positivo: sucesso pelo bom desempenho do setor da educação no Ceará, quando era governador.

• Rui Costa (PT), da Bahia, ministro da Casa Civil. Ponto negativo: desconhecido. Ponto positivo: sucesso do programa “Insegurança Alimentar”, quando governou a Bahia.

Pela área de centro-esquerda, vislumbram-se dois nomes:

• Geraldo Alckmin (PSB), de São Paulo, ex-governador de SP e atual vice-presidente da República. Considerado o mais competente e o mais experiente pelo Instituto AtlasIntel. Ponto positivo: moderado. Ponto negativo: apoiado pelo PT.

• Ciro Gomes (PDT), do Ceará, ex-governador, ex-ministro. Considerado o maior polemista da política. Pontos positivos: domínio da linguagem política e da linguagem econômica; experiência administrativa. Pontos negativos: linguagem desabrida, agressiva, e derrotado em quatro campanhas presidenciais.

Por parte da direita:

• Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), bem avaliado nos quesitos competência, experiência, honestidade. Ponto negativo: apoio de Bolsonaro.

• Ronaldo Caiado, (União Brasil), de Goiás. Candidato à presidência da República em 1989 (teve menos de 1% de votos), hoje é bem avaliado pelo eleitorado. Ponto negativo: pequena visibilidade, fator que pode ser corrigido na campanha de 2026, quando disporá de amplo tempo de exposição pública.

• Governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Empresário, apresenta-se como “perfil novo da política”. Governa um Estado, MG, que é o segundo maior colégio eleitoral do país (mais de 16 milhões de votos). Bem avaliado pelos mineiros, com mais de 60% de aprovação, de acordo com pesquisas recentes. Fator negativo: desconhecido.

• Ratinho Júnior (PSD), do Paraná. Bem avaliado pelos paranaenses — mais de 80% de aprovação, conforme recente pesquisa Quaest. Ponto negativo: desconhecido.

A paisagem esboçada deverá ganhar retoques. O retrato acima captura apenas os perfis, hoje apontados pela mídia e/ou pelos partidos políticos como possíveis candidatos. A análise de viabilidade de protagonistas não leva em consideração um fator que pode desdizer tudo o que foi dito. Esse fator tem nome: o Imponderável. ( Fonte – Jornal da USP)

Por Gaudêncio Torquato, escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político




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