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Artigos • 02 abr, 2022

O que Lula aprendeu?


(por Demétrio Magnoli)

Qual experiência lhe servirá de inspiração: a ortodoxia ou o populismo econômico?

Lula tinha 57 anos quando vestiu pela primeira vez a faixa presidencial, inaugurando um ciclo triunfante de dois mandatos, que se estendeu pelo mandato inicial da sucessora escolhida a “dedazo”. Depois, viveu um ciclo de fracassos, com direito a uma temporada na prisão e ao impeachment de Dilma Rousseff.

Graças aos esforços conjugados de Bolsonaro e Moro, tudo indica que subirá novamente a rampa do Planalto. Lula 3, triunfo ou fracasso?

Uma lenda, desmentida pelas histórias de tantos líderes políticos, diz que idade traz sabedoria. De fato, sabedoria política é filha da experiência submetida à autópsia da razão. Depois de duas décadas, aos 77, o que Lula terá aprendido?

Qual experiência lhe servirá de inspiração: a ortodoxia do primeiro mandato ou o populismo econômico do segundo, conduzido às últimas consequências por Dilma?

O “golpista neoliberal” Alckmin, na definição oferecida por um manifesto de dirigentes do PT, foi escolha pessoal de Lula para a vice-presidência. A linguagem do manifesto é obra do próprio Lula, inventada para reunir suas tropas na trincheira da resistência ao impeachment.

A lógica da aliança sugere a renúncia aos artefatos discursivos fabricados em 2016. Mas esse passo exige uma revisão partidária da história recente. Lula a impulsionará? Ou preferirá o caminho de uma permanente duplicidade?

Cercado por seu cortejo de militares convertidos em políticos, Bolsonaro apelou ao combate contra o “inimigo interno”, em referência explícita ao paradigma da ditadura militar. Lula nunca empregou a expressão, mas silenciou quando José Dirceu e outros dirigentes petistas, imitando uma prática castrista, referiram-se a adversários como “inimigos do povo”.

Moro condenou Lula de forma ilegal. A conclusão do STF não significa que inexistiram o mensalão e o petrolão – ou apaga a responsabilidade política do ex-presidente nos dois casos. A estratégia de soldar maioria parlamentar pela compra de partidos prosseguiu sob Bolsonaro, via “orçamento secreto”. Terá Lula aprendido a lição sobre a necessidade de uma reforma política saneadora?

O núcleo da política social lulista foi o Bolsa-Família. Lula utilizou-o à larga para finalidades eleitorais, assustando os pobres com o espectro de sua abolição por um sucessor malvado. Contudo, o malvado sucessor dobrou a aposta com o Auxílio Brasil.

Lula 3 terá a grandeza de mudar o curso dessa história, convertendo os programas de transferência de renda em política de Estado, pela fixação de seus pilares em lei e a entrega de sua administração a um comitê gestor independente?

Triunfo ou fracasso? O destino do terceiro mandato depende da resposta a indagações como essas. Se Lula aprendeu as lições básicas, sorte dele —e nossa.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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